O que é a economia circular?
“Usar, abusar e descartar”. Em poucas palavras, este foi o modelo de negócio das últimas décadas. Os ciclos de vida “cradle to grave” (“do berço à sepultura”, em tradução livre) se transformaram em uma economia de produtos descartáveis e disposta a comprometer os recursos naturais.
O modelo de economia circular é diferente. O ciclo de vida do produto deve ser planejado “cradle to cradle” (“do berço ao berço”, em tradução literal). Quando um equipamento chega ao fim da sua vida útil deve dar origem a um novo produto, gerando um ciclo infinito.
Um bom exemplo é o da Sundeala, cliente da Infraspeak, que produz painéis de fibra reciclada. Quando chegam ao fim da sua vida útil, os painéis podem ser reciclados novamente para criar novos painéis. Veja mais sobre como funciona todo o processo de economia circular na Sundeala.
Evidentemente, aplicar um modelo circular implica mudanças estruturais. Uma das mais importantes – e que talvez você já esteja pressentindo – é que o “cliente final” se transforma em um “utilizador”. Como o produto nunca chega a um “fim”, a relação com os fornecedores se renova constantemente.
Quais são as vantagens da economia circular?
Mas porquê substituir o modelo linear pelo modelo circular? Resposta simples: porque não é sustentável. O modelo linear produz (e descarta) a uma velocidade mais rápida do que a reposição dos recursos, com todo o impacto econômico, social e ambiental que isso implica.
A escassez e o aumento do custo das matérias-primas, que a pandemia acelerou, não têm um fim certo. As reservas de muitos metais que usamos hoje em dia em todo o tipo de tecnologias, como o lítio, a prata, o gálio e o índio, podem se esgotar dentro de 100 anos. A economia circular é a única solução para evitar a escassez.
Contudo, todos temos um quê de egoísmo e egocentrismo. É normal acreditar que, em 100 anos, vamos encontrar alternativas para esses minerais. Afinal, qual é a vantagem de transformar o seu modelo operacional e que proveito podemos tirar a economia circular agora?
A passagem para uma economia circular vai nos tornar menos vulneráveis a fatores externos, minimizar o risco, diminuir a quantidade de estoque necessário, maximizar a utilização dos materiais e preservar o “capital natural”. Esta resiliência é, aliás, uma das premissas da Indústria 5.0.
Sempre que o custo de recolher, processar e reutilizar o produto for razoável, um ciclo de vida circular é preferível ao modelo linear. E a demonstração de que os dois estão a se aproximar é que, em 2021, o preço do plástico PET ultrapassou o do rPET (PET reciclado) devido à falta de materiais.
Mas qual é a importância da manutenção na economia circular?
A ideia central da economia circular é estender a vida útil de cada peça e de cada material. Se por um lado isso nos leva a reaproveitar os produtos uma e outra vez, por outro nos obriga a olhar para o desperdício que se gera nas nossas operações diárias. E é precisamente aí que entra a manutenção.
Resguardar a eficiência máxima para todo o ciclo é sinônimo de garantir a confiabilidade do equipamento. E, ainda: fazer sem gerar desperdício nos obriga a consertar em vez de substituir, reutilizar, manter os equipamentos em bom estado e a operar em condições adequadas, estendendo a sua vida útil.
E, como quem não quer nada, acabamos de entrar no jargão de manutenção: “reparar”, “reutilizar”, “manter”, “estender”. Uma estratégia de manutenção deficiente, como veremos mais à frente gera desperdícios; pelo contrário, a manutenção antecipada ajuda a preveni-los. Nunca estamos em território neutro.
Como a manutenção gera desperdício?
- o estado do equipamento: se o equipamento não está em boas condições, é normal que isso reflita na sua performance e disponibilidade. Para a maioria das empresas, o downtime é a principal causa de perdas de produção. Além disso, os tempos de espera e os defeitos de produção são dois dos 8 desperdícios do lean. Portanto, a estratégia de manutenção deve se adequar ao estado do equipamento, à fase da vida em que se encontra e à sua criticidade
⚙️ Veja aqui como criar uma estratégia de manutenção de ativos.
- condições de operação: a temperatura, a pressão e a densidade, entre outros fatores, podem levar a um desgaste mais rápido do equipamento. Por sua vez, o desgaste também pode comprometer a sua funcionalidade. Um estudo do MIT chegou à conclusão de que 50% da funcionalidade dos equipamentos se perde devido ao desgaste mecânico, enquanto 20% se deve à corrosão. Ambas podem ser evitadas com a lubrificação correta (ou seja, com a manutenção adequada) dos componentes mecânicos.
Quais as melhores estratégias de manutenção na economia circular?
Portanto, os requisitos exigidos pela nova economia circular são: garantir a confiabilidade dos equipamentos, maximizar a vida útil dos ativos e evitar o desperdício. A manutenção corretiva fica praticamente excluída. A preventiva parece insuficiente. Mas estas estratégias de manutenção ganham relevância:
- manutenção baseada na condição, em que a condição do equipamento é monitorado em tempo real. Isto permite manter sempre as melhores condições e resolver qualquer dano antecipadamente.
- manutenção produtiva total (TPM), em que cada funcionário se responsabiliza pelo seu equipamento e participa ativamente na manutenção diária.
- manutenção centrada na confiabilidade (RCM), que se foca em manter a confiabilidade de cada equipamento com planos de manutenção personalizados.
- manutenção sob uma perspetiva lean. Não sendo propriamente uma estratégia de manutenção, é uma proposta para aplicar uma metodologia lean à manutenção.
Além disso, há outras mudanças que devem acontecer. À medida que o modelo circular se vai propagando por todos os setores e a tecnologia evolui, há pelo menos duas mudanças que podem fazer a diferença no dia a dia dos gestores de manutenção:
- reparar em vez de substituir: escolher entre reparar e substituir nunca é uma decisão fácil. Contudo, reabilitar o equipamento, em vez de o substituir, reduz a necessidade de novas peças e diminui o desperdício. A Caterpillar, através do programa Cat Reman, reconstrói equipamentos em fim de vida e oferece aos clientes equipamentos “como novos” a uma fração do custo. Portanto, você não só deve apenas colocar as duas opções em cima da mesa, como deve considerar este tipo de programas ao escolher um fornecedor.
- “gêmeos digitais”: uma das tecnologias mais promissoras são gêmeos digitais de fábricas e outras infraestruturas. Os gêmeos digitais podem ser utilizados para testar, desenvolver e validar ciclos de produção e manutenção. Desta forma, conseguimos explorar e encontrar as estratégias que asseguram mais produtividade. Os gêmeos digitais podem também se associar a machine learning, modelos preditivos, deep learning e outras tecnologias na Manutenção 5.0.
A manutenção tem um papel essencial para prolongar a vida útil dos equipamentos, diminuir o desperdício e fazer com que o ciclo da economia circular seja longo e produtivo. No entanto, quando a confiabilidade se torna prioritária, é preciso ajustar a estratégia de manutenção com esse objetivo em mente.