“A sustentabilidade é tão ou mais importante do que ter espaços de trabalho adequados aos seus usuários. Os clientes têm metas ambiciosas já definidas e esperam que os fornecedores os acompanhem e os ajudem a alcançá-las. A contribuição do Facility Management é novamente muito importante aqui, ao implementar melhores práticas nos espaços do cliente.”

– Rui Gomes, ISS Facilities Portugal

Estamos em 2024. Os cuidados ambientais não são extras mas, sim, uma necessidade. A sustentabilidade é uma exigência dos clientes, dos governos e do relógio interno do planeta fazendo tic-tac. Segundo o Climate Clock, temos 7 anos para evitar que a temperatura suba 1.5ºC.  

Se não ainda não está parecendo assim tão grave (para que serve a manutenção do ar-condicionado, afinal?), a NASA avisa que é o suficiente para pôr em risco o habitat de 6% dos insetos, 8% das plantas e 4% de todos os vertebrados. Mesmo assim, é um dos cenários mais animadores.

No caso de a temperatura subir ainda mais – a este ritmo, pode subir até 4ºC até 2100 – os principais impactos no Brasil são relacionados com a  produtividade agrícola e o aumento do nível do mar, o que gera consequências graves para cidades litorâneas. Mas, por agora, chega de cenários apocalípticos. O que podemos fazer durante estes 7 anos?

Vamos estabelecer o nosso ponto de partida:

Portanto, não é preciso um esforço grande para entender que os vilões… são os edifícios, não é mesmo? Mas, na verdade, como os edifícios não se constroem nem se operam sozinhos, na verdade o problema somos nós. Então, cabe ao facility management retificar os problemas de construção e evitar o desperdício de energia com tecnologia inteligente.

Como evitar o desperdício de energia nos edifícios?

Grande parte do problema é que muitos edifícios têm construção antiga com um envelope térmico deficiente. Isso os torna vulneráveis à temperatura exterior. No inverno é difícil manter os espaços quentes e no verão é difícil mantê-los frescos. Em média, o sistema AVAC corresponde a 40% da energia usada.

Por isso, em edifícios antigos, poupar energia passa inevitavelmente por uma reabilitação, em conjunto com a aplicação de novas tecnologias. Singapura, por exemplo, já renovou 49% dos edifícios para os tornar mais “verdes” e quer atingir 80% até 2030. Na Europa, a “onda de renovações” deve ter o mesmo prazo.

Como economizar energia com tecnologia inteligente?

Em um edifício inteligente, tudo está interligado e os sistemas compartilham informações em tempo real. Esta conectividade permite otimizar e automatizar uma série de processos, desde o aquecimento até à iluminação. Vamos explorar 5 tendências de tecnologia inteligente (“smart technology”) para promover a sustentabilidade em edifícios:

1. Sistemas AVAC Inteligentes

Com um sistema AVAC inteligente, é possível otimizar o aquecimento/refrigeração do edifício de acordo com a ocupação das salas (medida com sensores) e a temperatura (medida com termostatos inteligentes).

Um sistema desenvolvido pela Universidade de Boston, por exemplo, usa sensores nas portas e nos tetos, assim como câmaras fisheye para calcular a ocupação e regular o sistema AVAC automaticamente.  

Os sistemas adaptativos, que se ajustam ao longo do tempo, podem resultar ainda em mais economia de energia e dinheiro. Um estudo da Universidade de Aveiro conclui que é possível alcançar uma redução de 27% dos custos com estas soluções e oferecer mais conforto aos ocupantes. 

2. Sensores de Ocupação & Otimização de Espaço

Como, atualmente, grande parte das pessoas vai adotar um sistema de trabalho híbrido, muitas empresas querem reduzir os seus espaços físicos. Mas isso nos obriga a otimizar o espaço e a minimizar a frustração dos ocupantes.

Por isso, os sensores de ocupação são uma mais-valia para o trabalho de facility management pós-COVID. Entender os padrões de ocupação permite otimizar os horários e a disposição das salas, por exemplo. 

Além disso, como já falamos, podem ser úteis para otimizar as definições do sistema AVAC, a iluminação e até frequência das limpezas. Estima-se que os sensores de ocupação reduzam o desperdício de energia em 68% e resultem em poupanças até 60%. 

3. Janelas Inteligentes e Motorizadas

Segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos, 75% das persianas ficam na mesma posição todo o dia. Mas, nas janelas viradas a poente, as coberturas e tratamentos das janelas podem evitar 77% dos ganhos de calor.

Assim sendo, os sensores de temperatura e os temporizadores nas janelas motorizadas também são tecnologias inteligentes valiosas para poupar energia em AVAC. É possível, por exemplo, fechar as persianas nas horas mais quentes durante o verão.

O potencial das janelas inteligentes, porém, ainda está por se explorar. O sistema desenvolvido pela ECOSTEEL e o Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligente, por exemplo, aquece automaticamente para evitar o congelamento de água nos canais de escoamentos, além de melhorar a qualidade do ar interior.

4. Telemetria e aproveitamento de águas residuais

Além do desperdício de energia, também é importante evitar o desperdício de água. Um simples sistema de telemetria em cada seção do edifício e comparar os valores de manhã e à noite permite detectar vazamentos.

Usar sensores de umidade para programação de irrigação dos jardins e de áreas verdes é outra opção interessante para hotéis, campos de golfe, campos de futebol, por exemplo. 

Embora seja uma opção menos “inteligente”, há cada vez mais equipamentos “recicladores de águas cinzentas” disponíveis no mercado para que, através de processos químicos e biológicos, seja possível reaproveitar as águas residuais em uma rede de água secundária. Vale a pena relembrar que em edifícios novos ou reabilitados também é possível instalar uma rede de águas residuais. 

⚙️ Veja também como a tecnologia inteligente auxilia a manutenção de jardins verticais.

5. Iluminação Inteligente e Sensores de Movimento

Por último, e apesar de já não ser uma tecnologia nova, as lâmpadas que ligam e desligam através de sensores de movimento continuam a ser uma excelente forma de poupar energia em edifícios industriais ou de escritórios. 

Os sensores de luminosidade para ajustar o brilho da lâmpada (por ex, reduzir enquanto há luz natural ou aumentar quando está nevoeiro) também são outra tecnologia inteligente muito promissora para a iluminação pública. 

Um estudo da Gartner sugere que os sistemas inteligentes de luzes LED podem reduzir os custos com energia até 90% em edifícios de escritórios. A cidade de Barcelona conseguiu reduzir 30% dos custos em iluminação pública com iluminação com LED inteligentes.