A Organização Mundial de Saúde recomenda que cada cidade tenha pelo menos 9m2 de área verde por habitante (50 m2 seria o ideal). Mas, à medida que a população se concentra em grandes áreas metropolitanas, será possível garantir esta quantidade de área verde? No Brasil, de acordo com dados do IBGE de 2015, 84,72% da população vive em centro urbanos, número muito acima da média mundial (56%). Na Europa, esse número é de cerca de 75%, América do Norte (82%) e da América Latina e Caraíbas (79%). 

 

Mesmo tendo na sua geografia o meio pedaço da Amazônia, conhecida como o pulmão do mundo, o Brasil está longe de ser um exemplo ambiental. Segundo o ranking Environmental Performance Index (EPI) de 2020, elaborado por especialistas das universidades norte-americanas Yale e Columbia , o país está na 55ª posição. Não é de se estranhar, portanto, que existam cada vez mais propostas para a reinvenção dos espaços urbanos.

 

areas verdes europa | green spaces in europe

Espaços verdes públicos por habitante (m2). Os dois pontos verdes no Norte da Península já são na Espanha. Em Portugal, Lisboa tem apenas 9.6 m2 por habitante e o Porto tem 13.98 m2. Fonte

 

Possivelmente, parte da solução para aumentar os espaços verdes recupera a mesma tática que usamos para alojar a enorme quantidade de pessoas que se concentra nas cidades: construir em altura. No futuro, tanto os edifícios públicos como os prédios habitacionais terão jardins e fachadas verticais para compensar as emissões de carbono, melhorar a qualidade do ar, reduzir ilhas de calor urbano e nos dar acesso à área verde que tanto precisamos.

 

Aliás, não há dúvidas de que a arquitetura está evoluindo em um sentido mais verde e ecológico. Segundo um estudo feito em fevereiro de 2020, o mercado de construção de jardins verticais irá crescer 6,18% ao ano até 2027. Mas a principal barreira para crescer mais é precisamente… a manutenção. Então, o os facility managers podem esperar dos edifícios verdes que vão passar a gerenciar muito em breve? Como podemos superar os desafios que a manutenção dos jardins verticais representa?

 

Manutenção de Jardins Verticais, Fachadas e Coberturas Verdes

 

Para entender melhor os desafios da manutenção de jardins verticais e espaços verdes, nada melhor do que perguntar a um especialista na área. E este foi precisamente o tema do nosso talk com Danyel Guzmán, CEO da Verdtical, uma empresa espanhola líder em bioconstrução e construção de jardins verticais inteligentes. O talk está disponível na íntegra aqui [apenas disponível em Espanhol]: 

 

 

 

Há três principais desafios na manutenção de jardins verticais:

 

  • proporcionar ótimas condições para o crescimento das plantas de maneira “artificial”: manter o sistema de irrigação e a pressão da água, fertilizar e garantir a qualidade do substrato, controlar a temperatura e a luz (em jardins verticais interiores); 
  • gerenciar os consumos de energia relacionados com todos os sistemas que alimentam as plantas e asseguram as condições ideias para que elas se desenvolvam; 
  • executar todas as tarefas de manutenção e de jardinagem em altura, em locais de difícil acesso, o que é um enorme desafio de segurança e destreza. Não é raro que sejam necessários andaimes ou equipamentos de escalada.

 

Claro que, quando os técnicos estão trabalhando a 20 metros de altura, receber notificações de danos não é assim tão simples. “Diferenciamos em dois tipos de chamados. Um é mais reativo, quando há uma incidência ou um alerta que possa deixar a instalação em perigo. Esses são classificados como chamados, são priorizados e são emitidos diretamente para as equipes de manutenção no local, para que atuem em conformidade”, explica Danyel Guzmán.

 

“Por outro lado, [a manutenção preventiva] é uma parte fundamental no nosso trabalho. Como nem sempre podemos acessar a plataforma a 20 metros de altura, porque há trabalhos verticais que têm certas especificações, é primordial planejar chamados de um ponto de vista preventivo, com duração e datas. Definir os equipamentos que precisam ser verificados, medir e registrar.

 

Se algum equipamento não estiver funcionando bem, ou se as medições não estiverem dentro dos parâmetros, “é possível reportar na plataforma” e submeter uma requisição de reparação. Isto é o que gera chamados reativos e mantém as condições para o jardim continuar a se desenvolver, com a quantidade adequada de água e nutrientes, e sem pragas ou doenças.

 

Como a Infraspeak facilita a manutenção de jardins inteligentes?

 

Como você deve ter reparado, a Verdtical não se dedica apenas à construção de jardins verticais, mas sim de jardins verticais inteligentes. Levando em conta a importância da manutenção preventiva para garantir a sobrevivência destes espaços verdes, a empresa implementa sensores para monitorar a pressão, a temperatura e a qualidade do substrato. Os dados recolhidos são transferidos em tempo real para a plataforma de manutenção.

 

A utilização de sensores não só diminui o número de chamados preventivos presenciais, como evita a manutenção reativa (e os gastos associados). Mesmo à distância, é possível transformar os dados em informação valiosa para os jardineiros. Além disso, a plataforma fornece relatórios detalhados sobre as condições do jardim e o consumo de energia, o que leva a melhorias contínuas. 

 

Todos sabemos que os dados são valiosos, mas nem sempre é fácil entender o quanto. No entanto, se evoluirmos para uma arquitetura verde e inteligente, os facility managers precisam responder com ferramentas igualmente inteligentes. Embora seja impossível negar a  manutenção que os jardins verticais exigem, é evidente que temos capacidade tecnológica para enfrentar o desafio. 

 

“Quero ser otimista. Considero que este [a pandemia de COVID-19] é um momento de reflexão, em que devemos pensar no que não estávamos fazendo bem, e ser mais proativos com soluções que melhorem a nossa relação com o planeta a todos os níveis”, finaliza Danyel.