A Organização Mundial de Saúde recomenda que cada cidade tenha pelo menos 9m2 de área verde por habitante (50 m2 seria o ideal). Mas, à medida que a população se concentra em grandes áreas metropolitanas, será possível garantir esta quantidade de área verde? Na Europa, cerca de 75% da população já vive em centros urbanos, muito acima da média mundial (56%), mas abaixo da América do Norte (82%) e da América Latina e Caraíbas (79%). 

 

Em média, 40% das cidades europeias são áreas verdes, com 18.2 m2 de espaço verde acessível a cada habitante. Quase metade (44%) da população europeia mora num raio de 300 metros de um parque público. O problema, claro, é que as médias podem ser enganosas: em Lisboa, por exemplo, apenas 22% da área da cidade corresponde a espaços verdes. Não é de estranhar, portanto, que haja cada vez mais propostas para a reinvenção dos espaços urbanos.

 

areas verdes europa | green spaces in europe

Espaços verdes públicos por habitante (m2). Os dois pontos verdes no Norte da Península já são em Espanha, na vizinha Galiza. Lisboa tem apenas 9.6 m2 por habitante e o Porto tem 13.98 m2. Fonte

 

Possivelmente, parte da solução para aumentar os espaços verdes recupera a mesma tática que usamos para alojar a enorme quantidade de pessoas que se concentra nas cidades: construir em altura. No futuro, tanto os edifícios públicos como os prédios habitacionais terão jardins e fachadas verticais para compensar as emissões de carbono, melhorar a qualidade do ar, reduzir ilhas de calor urbano e dar-nos acesso à área verde de que tanto precisamos.

 

Aliás, não há dúvidas de que a arquitetura está a evoluir num sentido mais verde e ecológico. Segundo um estudo feito em fevereiro de 2020, o mercado de construção de jardins verticais irá crescer 6.18% ao ano até 2027. Mas a principal barreira para crescer mais é precisamente… a manutenção. Então, o que é que os facility managers podem esperar dos edifícios verdes que vão passar a gerir muito em breve? Como podemos superar os desafios que a manutenção dos jardins verticais representa?

 

Manutenção de Jardins Verticais, Fachadas e Coberturas Verdes

 

Para entender melhor os desafios da manutenção de jardins verticais e espaços verdes, nada melhor do que perguntar a um especialista na área. E este foi precisamente o tema da nossa talk com Danyel Guzmán, CEO da Verdtical, uma empresa espanhola líder em bioconstrução e construção de jardins verticais inteligentes. A talk está disponível na íntegra aqui [apenas disponível em Espanhol]: 

 

 

 

Há três principais desafios na manutenção de jardins verticais:

 

  • proporcionar as condições ótimas para o crescimento das plantas de modo “artificial”: manter o sistema de irrigação e a pressão da água, fertilizar e garantir a qualidade do substrato, controlar a temperatura e a luz (em jardins verticais interiores); 
  • gerir os consumos de energia relacionados com todos os sistemas que alimentam as plantas e asseguram as condições ideias para que se desenvolvam; 
  • executar todas as tarefas de manutenção e de jardinagem a trabalhar em altura, em zonas de difícil acesso, o que é um enorme desafio de segurança e destreza. Não é raro que sejam precisos andaimes ou equipamento de escalada.

 

Claro que, quando os técnicos estão a trabalhar a 20 metros de altura, receber notificações de avarias não é assim tão simples. “Bem, diferenciamos em dois tipos de ordens de trabalho. Uma é mais reativa, quando há uma incidência ou um alerta que possa deixar a instalação em perigo. Essas são classificadas como ordens de trabalho, são priorizadas e emitem-se directamente às equipas de manutenção no local, para que actuem em conformidade”, começa por explicar.

 

“Por outro lado, [a manutenção preventiva] é uma parte fundamental no nosso trabalho. Como nem sempre podem aceder à plataforma a 20 metros de altura, porque há trabalhos verticais que têm certas especificações, é primordial planear ordens de trabalho de um ponto de vista preventivo, com duração e datas. Definir os equipamentos que têm de verificar, medir e registar.

 

Se algum equipamento não estiver a funcionar bem, ou se as medições não estiverem dentro dos parâmetros, “podem reportar na plataforma” e submeter uma requisição para reparar. É isto que gera ordens de trabalho reativas e mantém as condições para o jardim se continuar a desenvolver, com a quantidade adequada de água e nutrientes, e sem pragas ou doenças.

 

Como é que a Infraspeak facilita a manutenção de jardins inteligentes?

 

Como deve ter reparado, a Verdtical não se dedica apenas à construção de jardins verticais, mas sim de jardins verticais inteligentes. Tendo em conta a importância da manutenção preventiva para garantir a sobrevivência destes espaços verdes, a empresa implementa sensores para monitorizar a pressão, a temperatura e a qualidade do substrato. Os dados recolhidos são transferidos em tempo real para a plataforma de manutenção.

 

A utilização de sensores não só diminui o número de ordens de trabalho preventivas presenciais, como evita a manutenção reativa (e os gastos associados). Mesmo à distância, é possível transformar os dados em informação valiosa para os jardineiros. Além disso, a plataforma fornece relatórios detalhados sobre as condições do jardim e o consumo de energia, o que leva a melhorias contínuas. 

 

Todos sabemos que os dados são valiosos, mas nem sempre é fácil perceber o quanto. No entanto, se evoluirmos para uma arquitetura verde e inteligente, os facility managers têm de responder com ferramentas igualmente inteligentes. Embora seja impossível negar a  manutenção que os jardins verticais exigem, é evidente que temos capacidade tecnológica para enfrentar o desafio. 

 

“Quero ser optimista. Considero que este [a pandemia de COVID-19] é um momento de reflexão, em que devemos pensar no que estávamos a fazer mal, e ser mais proativos com soluções que melhorem a nossa relação com o planeta a todos os níveis”, remata Danyel.