“A sustentabilidade é tão ou mais importante do que ter espaços de trabalho adequados aos seus usuários. Os clientes têm metas ambiciosas já definidas e esperam que os fornecedores os acompanhem e os ajudem a alcançá-las. A contribuição do Facility Management é novamente muito importante aqui, ao implementar melhores práticas nos espaços do cliente.”

– Rui Gomes, ISS Facilities Portugal

Estamos em 2024. Os cuidados ambientais não são “nice to have” (extras) mas sim “must have” (uma necessidade). A sustentabilidade é uma exigência dos clientes, dos governos e do relógio interno do planeta a fazer tic-tac. Segundo o Climate Clock, temos 7 anos para evitar que a temperatura suba 1.5ºC.  

Se não lhe está a parecer assim tão grave (para que serve a manutenção do ar condicionado, afinal?), a NASA avisa que é o suficiente para pôr em risco o habitat de 6% dos insectos, 8% das plantas e 4% de todos os vertebrados. Mesmo assim, é um dos cenários mais animadores.

No caso de a temperatura subir ainda mais – a este ritmo, pode subir até 4ºC até 2100 – 24 localidades Portuguesas vão desaparecer, assim como boa parte de Lisboa. Todo o território nacional estaria em risco de seca extrema. Mas, por agora, já basta de cenários apocalípticos. O que podemos fazer durante estes 7 anos?

Vamos estabelecer o nosso ponto de partida:

→ os edifícios são responsáveis por 40% de todo o consumo de energia

→ os edifícios não residenciais gastam, em média, mais 40% de energia

→ no que diz respeito à eletricidade, representam 55% do consumo 

→ estima-se que 30% de toda a energia usada em edifícios é desperdiçada

→ na Europa, 75% dos edifícios não são eficientes 

Portanto, não é preciso um esforço grande para perceber que os vilões… são os edifícios? Ora bem, como os edifícios não se constroem nem se operam sozinhos, na verdade o problema somos nós. Então, cabe ao facility management retificar os problemas de construção e evitar o desperdício de energia com tecnologia inteligente.

Como evitar o desperdício de energia nos edifícios?

Grande parte do problema é que muitos edifícios têm uma construção antiga com um envelope térmico deficiente. Isso torna-os vulneráveis à temperatura exterior. No inverno é difícil manter os espaços quentes e no verão é difícil mantê-los frescos. Em média, o sistema AVAC corresponde a 40% da energia usada.

Por isso, em edifícios antigos, poupar energia passa inevitavelmente por uma reabilitação, em conjunto com a aplicação de novas tecnologias. Singapura, por exemplo, já renovou 49% dos edifícios para os tornar mais “verdes” e quer atingir 80% até 2030. Na Europa, a “onda de renovações” deve ter o mesmo prazo.

Como poupar energia com tecnologia inteligente?

Num edifício inteligente, tudo está interligado e os sistemas partilham informação em tempo real. Esta conectividade permite otimizar e automatizar uma série de processos, desde o aquecimento até à iluminação. Vamos explorar 5 tendências de tecnologia inteligente (“smart technology”) para promover a sustentabilidade em edifícios:

1. Sistemas AVAC Inteligentes

Com um sistema AVAC inteligente, pode otimizar o aquecimento/ arrefecimento do edifício consoante a ocupação das salas (medida com sensores) e a temperatura (medida com termóstatos inteligentes).

Um sistema desenvolvido pela Universidade de Boston, por exemplo, usa sensores nas portas e nos tetos, assim como câmaras fisheye para calcular a ocupação e regular o sistema AVAC automaticamente.  

Os sistemas adaptativos, que se ajustam ao longo do tempo, podem resultar ainda em mais poupanças de energia e dinheiro. Um estudo da Universidade de Aveiro conclui que é possível alcançar uma redução de 27% dos custos com estas soluções e oferecer mais conforto aos ocupantes. 

2. Sensores de Ocupação & Otimização de Espaço

Agora que cada vez mais pessoas adotam um sistema de trabalho híbrido, muitas empresas querem reduzir os seus espaços físicos. Mas isso obriga-nos a otimizar o espaço e a minimizar a frustração dos ocupantes.

Por isso, os sensores de ocupação são uma mais-valia para o trabalho de facility management pós-COVID. Perceber os padrões de ocupação permite otimizar os horários e a disposição das salas, por exemplo. 

Além disso, como já mencionámos, podem ser úteis para otimizar as definições do sistema AVAC, a iluminação e até frequência das limpezas. Estima-se que os sensores de ocupação reduzam o desperdício de energia em 68% e resultem em poupanças até 60%. 

3. Janelas Inteligentes e Motorizadas

Segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos, 75% das persianas ficam na mesma posição todo o dia. Mas, nas janelas viradas a poente, as coberturas e tratamentos das janelas podem evitar 77% dos ganhos de calor.

Assim sendo, os sensores de temperatura e os temporizadores nas janelas motorizadas também são tecnologias inteligentes valiosas para poupar energia em AVAC. Pode, por exemplo, fechar as persianas nas horas mais quentes durante o verão.

Mas o potencial das janelas inteligentes ainda está por explorar. O sistema desenvolvido pela ECOSTEEL e o Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligente, por exemplo, aquece automaticamente para evitar o congelamento de água nos canais de escoamentos, além de melhorar a qualidade do ar interior.

4. Telemetria e Aproveitamento de Águas Residuais

Além do desperdício de energia, também é importante evitar o desperdício de água. Um simples sistema de telemetria em cada secção do edifício e comparar os valores de manhã e à noite permite detetar fugas.

Usar sensores de humidade para programação a irrigação dos jardins e de áreas verdes é outra opção interessante para hotéis, campos de golfe, campos de futebol, por exemplo. 

Embora seja uma opção menos “inteligente”, há cada vez mais equipamentos “recicladores de águas cinzentas” disponíveis no mercado para que, através de processos químicos e biológicos, consiga reaproveitar as águas residuais numa rede de água secundária. Vale a pena relembrar que em edifícios novos ou reabilitados também pode instalar uma rede de águas residuais. 

⚙️ Veja também como a tecnologia inteligente auxilia a manutenção de jardins verticais.

5. Iluminação Inteligente e Sensores de Movimento

Apesar de já não ser uma tecnologia nova, as lâmpadas que ligam e desligam através de sensores de movimento continuam a ser uma excelente forma de poupar eletricidade em edifícios industriais ou de escritórios. 

Os sensores de luminosidade para ajustar o brilho da lâmpada (por ex, reduzir enquanto há luz natural ou aumentar quando está nevoeiro) também são outra tecnologia inteligente muito promissora para a iluminação pública. 

Um estudo da Gartner sugere que os sistemas inteligentes de luzes LED podem reduzir os custos com energia até 90% em edifícios de escritórios. A cidade de Barcelona conseguiu reduzir 30% dos custos em iluminação pública com candeeiros LED inteligentes.