Numa altura em que o mundo todo combate o mesmo inimigo, tivemos que abraçar novas tecnologias e descobrir os seus benefícios, mesmo que ainda exista um longo caminho a se percorrer. Como resultado, a COVID-19 pode muito bem ter sido a consagração da Internet das Coisas (IoT).

 

O mercado da IoT, que valia 150 bilhões de dólares em 2019, deve chegar a valer 243 bilhões em 2021. O home office, o rastreamento de cadeias de transmissão, os pagamentos com tecnologias contactless e até uma “Saúde 4.0” só foram possíveis graças a diversas aplicações da IoT.

 

Então, quais tecnologias realmente vieram para ficar? Como é que a IoT pode nos ajudar num cenário de distanciamento social prolongado ou numa próxima pandemia? Em que tipo de tecnologias devemos apostar na volta ao trabalho? 

 

Ao longo deste artigo, vamos explorar as diversas áreas em que a IoT nos ajudou a superar a pior fase da pandemia e como o Coronavírus mudou a nossa percepção da IoT para sempre. 

 

Home Office: cloud e acesso remoto

 

O trabalho remoto foi a solução encontrada por muitas empresas no Brasil para respeitar a quarentena imposta em muitas cidades, sem parar suas atividades. E vai continuar sendo adotado nos casos em que for possível.

 

Claro que o home office não é uma novidade. Uma pesquisa realizada pela SAP Consultoria Recursos Humanos mostrou que, em 2018, 48% das empresas entrevistadas adotavam o trabalho remoto. Do total, 28% são do setor de TI/Telecom e 16% de serviços. Após a pandemia, o volume de empresas a adotarem esse regime deve crescer 30%, de acordo com segundo estudo do professor  André Miceli, da Fundação Getúlio Vargas.

 

O home office já era uma tendência em crescimento. As principais vantagens apontadas na pesquisa da SAP são melhoria na qualidade de vida dos colaboradores, mobilidade urbana, concessão de benefícios, atração e retenção de talento. 

 

Este modelo oferece mais flexibilidade, menos tempo perdido em trajetos casa-trabalho, permite às empresas poupar em espaços físicos e ter equipes trabalhando em diversas localizações. Mesmo antes da pandemia, as tecnologias de IoT mais usadas pelas empresas eram os sensores (84%), processamento de dados (77%) e plataformas em nuvem (76%). 

 

Não há dúvidas de que não teria sido possível manter as infraestruturas em funcionamento sem toda a tecnologia que adotamos nos últimos anos: cloud computing, ferramentas colaborativas (como softwares de videoconferência, de gestão de projetos, chats), acesso remoto a computadores e sincronização de dispositivos, VPN e apps mobile-first. E é exatamente este tipo de soluções que, segundo as previsões, mais irá crescer entre em 2020 e 2021. 

 

Sensores inteligentes para medir a qualidade do ar 

 

A ventilação adequada de espaços utilizados por muitas pessoas sempre foi um desafio. Frequentemente, os edifícios acabam tendo ar excessivamente poluído, com monóxido de carbono, pó de amianto, resquícios de mofo ou de pesticidas, além de outros compostos orgânicos. Talvez nunca tenha se falado tanto da necessidade de ventilar os espaços fechados como agora, uma vez que é uma medida de segurança essencial para prevenir o contágio de Coronavírus.

 

A preocupação com a qualidade do ar aumenta à medida que se descobre mais sobre o comportamento do SARS-CoV-2, o vírus causador da doença. Já sabemos que a distância social em espaços fechados deve ser um pouco maior do que esperávamos no início da pandemia. Depois, ficou provado que as partículas aerossolizadas criavam uma via de contágio fecal-oral. Agora, foram detectadas partículas de vírus suspensas em ar poluído, recolhido na zona industrial de Bérgamo, na Itália. 

 

Se o SARS-CoV-2 é realmente mais resistente do que pensávamos inicialmente e pode permanecer na atmosfera, então monitorar a qualidade do ar ganha outra urgência.

 

Uma das soluções mais rápidas, e relativamente econômica, é a instalação de sensores que coletam informação sobre a qualidade do ar. Eles ficam ligados a um sistema de Inteligência Artificial que consegue ativar e desativar os sistemas AVAC conforme necessário.  

 

A ascensão do robô

 

Para os gestores de manutenção industrial, cumprir o distanciamento social em uma linha de montagem é um desafio. Muitas fábricas terão que repensar o seu layout para conseguirem cumprir todas as normas de segurança, enquanto outras terão que trabalhar com equipes reduzidas. Para que isto não implique em uma quebra de produção, muitas empresas terão que recorrer à IoT para sobreviver e automatizar processos.

 

Os robôs estão associados ao medo subliminar de perder empregos. Mas as perguntas que aparecem agora são: como os robôs podem acelerar a nossa recuperação? Como podemos usar a tecnologia para nos proteger do contágio? Como eles podem nos ajudar a manter a distância social? Como automatizar determinados processos nos prepara para futuras pandemias?

 

Não se trata de substituir trabalhadores, mas sim de tornar os processos mais seguros, mais eficazes e mais produtivos. 

 

Os smart robôs podem servir, por exemplo, para entregar materiais e comida (como já acontece em alguns hospitais pelo mundo) ou para separar medicamentos nos estoques (como acontece em algumas farmácias). Mas eles não são úteis apenas na doença! Há empresas que estão usando drones para fazer entregas seguras em domicílio. A XAG e a Huawei converteram robôs e drones usados para espalhar adubos agrícolas em sprays desinfetantes. 

 

Seria o blockchain uma arma contra a COVID-19?

 

O blockchain é uma das tecnologias mais promissoras dos últimos anos. Muito sucintamente, o blockchain surgiu para controlar as transações com criptomoedas, para garantir que cada troca corresponda a um valor real. Depois de uma informação (“bloco”) ser inserida nesta “corrente”, ela não pode ser apagada ou alterada e, ainda, pode ser consultada por qualquer pessoa. Ou seja, ninguém consegue vender as mesmas criptomoedas duas vezes.

 

Apesar de ter sido o propósito inicial, o blockchain pode ter diversas utilidades. Uma das mais conhecidas é o uso de blockchain no varejo, o que permitiria controlar toda a cadeia de distribuição. Conseguiríamos saber, por exemplo, onde um determinado lote de produto foi fabricado, a que temperatura viajou no caminhão frigorífico e os armazéns por onde passou. Esta informação seria absolutamente confiável porque, como já explicamos acima, esta corrente é inviolável. Chegamos ao fim da era da falsificação. 

 

Parece muito futurista? Não, mesmo! Desde 2018, a empresa portuguesa SONAE tem um projeto que permite rastrear a cadeia de distribuição de produtos frescos para garantir segurança e transparência. Sendo possível controlar toda a cadeia de distribuição, seria fácil retirar de circulação ou desinfectar produtos que possam ter estado em contato com trabalhadores infectados com COVID-19. Portanto, num cenário de pandemia, poucas tecnologias podem oferecer mais confiança aos consumidores. 

 

Controle de estoque


Com a pausa das cadeias de distribuição durante a pandemia, o controle de estoques foi um dos maiores desafios que os varejistas tiveram que enfrentar durante o confinamento – e é possível que esta dificuldade continue a ser sentida até o fim do ano. Mas, sem dúvida, empresas que já usavam etiquetas NFC para controlar a entrada e saída de estoques dos armazéns passam mais facilmente por este desafio.  

 

Por outro lado, os sistemas de rastreamento usados por algumas transportadoras mostraram-se essenciais para manter o e-commerce em pleno funcionamento e gerir os atrasos nas entregas em tempo real. Ou seja, a IoT tornou-se uma forma de oferecer um serviço mais rápido e transparente ao consumidor final. Se o confinamento realmente mudar os nossos hábitos de consumo, esta poderá ser uma das novas exigências. 

 

IoT e a saúde 4.0


A saúde é um dos setores que mais tem a ganhar com o desenvolvimento tecnológico. Hoje, podemos falar em “medicina remota” e “medicina interativa” para acompanhar doentes que estão em casa ou que não podem se deslocar até um hospital. Algumas das tecnologias que aplicamos na Indústria 4.0 também têm aplicações aqui – é possível interligar equipamentos de imagens e radiologia ou monitorar pacientes à distância, por exemplo – e daí nasce uma verdadeira  “saúde 4.0”.

 

Um dos melhores exemplos deste tipo de tecnologia 4.0 é o Libreview da Freestyle, um software que permite acessar aos registros gravados em qualquer glicosímetro da marca. Quando conectado com um Freestyle Libre, um leitor de glicemia que funciona através de tecnologia NFC, basta que o paciente passe o leitor pelo sensor para que o médico possa ver a glicemia naquele momento. Os gráficos diários e mensais também ficam disponíveis, assim como uma série de outras estatísticas de controle da glicemia.

 

Além disso, os robôs já são usados há alguns anos para cirurgias que requerem um nível de precisão quase impossível para a mão humana. Agora, os “robôs médicos” são usados em centros de saúde de emergência para medir a temperatura dos pacientes com suspeita de Coronavírus, entregar medicamentos a quem está em isolamento e, até mesmo, para desinfectar quartos. 

 

Isto permite, por um lado, diminuir o risco de contágio de profissionais de saúde e, por outro, economizar material de proteção em tarefas rotineiras. O mais provável é que, depois da “prova de fogo” da COVID-19, este tipo de tecnologia se desenvolva cada vez mais.

 

Big Data ao serviço da Saúde Pública 


Big data é um dos nomes associados à IoT. Usamos esta expressão para nos referir à enorme quantidade de informação que podemos recolher através da interconectividade, ao ponto de serem impossíveis de se processar manualmente. Aos poucos vamos aprendendo a integrar sistemas e a tomar decisões com base em todos os dados que temos à disposição, incluindo os gerados durante a pandemia.

 

Geralmente ouvimos falar em “smart cities” que usam big data para otimizar serviços municipais como a recolha de resíduos ou os espaços de estacionamento. Com a COVID-19, o big data pode ser usado a serviço da saúde pública. Países como a China, a Coreia do Sul e a Austrália usaram big data para criar mapas epidemiológicos e rastrear cadeias de transmissão (e, no caso da China, também para verificar se o isolamento social estava sendo cumprido). Em Portugal foi lançada a Covidografia, uma iniciativa do projeto #tech4COVID19, do qual a Infraspeak faz parte.  

 

O que há 10 anos não passava de ficção científica, tornou-se realidade. E a IoT afirmou-se como uma solução para lidar com outros problemas de saúde pública no futuro.

 

Uma última palavra sobre IoT e Manutenção Industrial

 

As falhas de manutenção podem ser fatais para quem está passando por esse período de pandemia com a produção desacelerada. Se sua empresa não pode arriscar ter mais tempo ocioso este ano, a manutenção preditiva merece a sua atenção. Sabemos, por exemplo, que os sensores de temperatura e os sensores acústicos de medição são eficazes para detectar danos. Isto permite que seus técnicos possam analisar os resultados e tomar decisões mais assertivas sobre os trabalhos que precisam ser executados e com que urgência. 

 

Outra vantagem de muitos destes métodos de manutenção preditiva é que, ligados a um software de manutenção cloud-based, também permitem fazer inspeções remotamente – inspeções virtuais – para chegar a um diagnóstico sem estar fisicamente no local. Além disso, com um CMMS ligado à cloud, o gestor de manutenção consegue acompanhar todos os danos e atribuir tarefas à distância.  

 

E depois da COVID-19?


O impacto da COVID-19 na IoT pode se estender para muito além do confinamento, especialmente se o vírus continuar circulando pelo mundo. A pandemia veio separar as empresas em dois tipos: as que estavam preparadas para usar a tecnologia a seu favor e seguir em frente, e as que resistem e não se adaptam a novas formas de trabalhar. É certo que esta divisão digital já existia antes, mas nunca tinha sido tão acentuada ou tão decisiva.

 

As empresas que não investirem em projetos de R&D e na inovação tecnológica, arriscam ficar para trás durante os próximos anos, enquanto novas empresas emergem como alternativas. Por isso, você precisa se perguntar: em que lado da trincheira está?