A comunidade IFM — Intelligence for Maintenance reuniu profissionais do mundo da gestão de facilities e manutenção,que compartilham sua paixão pelo setor. Com o objetivo de compreender melhor as experiências desses membros e seu interesse no Relatório de Remuneração e Benefícios em FM e Manutenção, realizamos uma série de conversas, que compartilhamos hoje.

Nesta entrevista, conversamos com Ivan Carlos Ferreira, Gerente de Desenvolvimento de Negócios Sr. no Grupo Brasanitas, um membro muito importante da IFM, para conhecer sua perspectiva e experiência.

Conte-nos um pouco sobre sua trajetória profissional e o que o levou a fazer parte da comunidade IFM.

Bom, na verdade eu sempre atuei na área de facilities, mas inicialmente eu era da área de suprimentos. E depois, num certo momento, eu comecei a ter uma entrada mais efetiva na área de facilities services quando eu comecei a contratar serviços de terceirização. Uma vez que eu comecei a contratar, veio muitas dúvidas com respeito a por que existiam tantas empresas no mercado e elas não entendiam, na verdade, qual era a expectativa e a necessidade dos clientes. 

Uma vez, quando eu já havia trabalhado do outro lado da mesa contratando, eu resolvi ir para este lado executando serviços e atendendo quem estava atrás da mesa. Daí em diante passei por várias empresas de facilities do mercado e sempre envolvido na área de facilities services. 

Quando eu trabalhei em uma empresa multinacional, eu tive o primeiro contato com o IFM e aí realmente eu entrei de cabeça nesse meio e continuo até hoje. Com a Comunidade IFM hoje, em FM e manutenção, e nos outros comitês, como o CEE-267, Comitê de Inovação Tecn. para Saúde da ABRAFAC, ISO FM entre outros, que atualmente existem no mercado, eu recebi convites para participar, uma vez que eu tenho essa atuação constante não só junto aos clientes, mas também junto às empresas.

O que o motiva a ser um membro ativo da comunidade IFM? Qual é o maior benefício de ser membro da IFM, na sua opinião?

A comunidade IFM é muito importante porque ela é uma junção de profissionais que não estão ali simplesmente para ocupar espaço ou para dizer o que eles acham. São executivos que representam opiniões de profissionais do ramo e que estão no mercado há muitos anos, que conhecem não só por meio da teoria, mas também atuam na prática a integrar todos os serviços e ofertar cada vez melhores soluções para o mercado.

Na verdade, o ponto chave da Comunidade IFM é obter as melhores soluções. São os melhores profissionais envolvidos no dia a dia para que as melhores empresas utilizem as melhores práticas e assim desenvolvam as melhores soluções. 

Eu acredito que na medida em que as pessoas enxergarem que a Comunidade é uma incubadora que pode chegar a um nível muito grande na parte da atuação e solução, mais empresas, mais profissionais vão querer estar no meio e poder contribuir e receber os resultados do trabalho que está sendo plantado ali.

O estudo sobre salários e benefícios no setor de facilities e manutenção é uma iniciativa relevante. O que o impulsionou a participar e contribuir para a elaboração deste relatório?

Eu tenho percebido que as empresas estão percebendo que esse tipo de estudo é muito importante para entender o momento que as empresas e grupos estão, mas não só isso, entender se realmente é apenas remuneração que está motivando os colaboradores a irem ou ficarem.

Nós profissionais desse ramo e que chegamos a um nível na nossa carreira, a gente não fica olhando o financeiro, a gente quer saber o que a gente pode contribuir para a empresa, para as equipes e para o mercado, e isso não é mensurável financeiramente falando. 

A empresa que realiza o estudo de remuneração, consegue entender os dois lados da moeda – o que o colaborador deseja e o que ele tem condições  de entregar – permitindo ali que ambos tenham a capacidade analítica de tomar decisões, seja para buscar crescimento vertical ou horizontal nas empresas em que atua. E no momento é nítido o enorme gap existente entre a compreensão do que o profissional faz e daquilo que ele realmente tem a capacidade de entregar e agregar.

Eu acho que o fato de você sentar e entender o momento do seu colaborador, não importa o nível, é muito importante para saber o que ele tem de expectativa. E dali para frente, juntos, construir a melhor remuneração, que nem sempre é financeira.

Ao longo de sua carreira, você enfrentou algum desafio específico em relação à remuneração e ao benchmark salarial? Se sim, como você lidou com isso?

Eu tenho muitos amigos que sempre me ligam para falar, Ivan, tenho uma oportunidade no ramo, por exemplo, eu conheço dois gestores da área que querem mudar a função. E eles começaram a perguntar, o que você acha? É um cargo legal? A remuneração é boa? Será que está muito diferente do que eu estou hoje e tal?

Se você olhar para o LinkedIn vai ver as principais vagas divulgadas e ali o pessoal pede: você tem que ter 20 anos de idade, 50 anos de experiência, falar 10 línguas diferentes e ganhar um salário de R$5 mil. Na verdade esse salário de 5 mil e apenas uma idéia ou chamariz. Não se apresentam pacotes de benefícios ou salários que vão de encontro com o perfil e capacitação técnica do profissional. Por isso, a maioria percebe que aquelas inúmeras e mais altas exigências não correspondem à remuneração ofertada… aí a frustração do RH e do candidato se colidem.

Eu tenho percebido que as pessoas, muitas vezes, quando vão participar de processos seletivos ou vão atrás de possíveis mudanças de cenários de cargo e  etc, elas aceitam algumas condições devido a falta de informações. Com isso, o mesmo aceita o mínimo ofertado , mas certo de que se algo “novo” aparecer ele muda novamente. Assim não se cria raízes, desenvolvimento, amadurecimento profissional e pessoal com a nova Empresa. Quando se é ofertado uma remuneração baseada em capacidade, entrega e valor — mesmo que metas agressivas — o profissional é desafiado a fazer a diferença, pensar fora da caixa e fazer acontecer da melhor forma possível, assim, sua remuneração também será diferenciada.

Eu acho que é importante se preocupar que o profissional de Facilities atenda a determinados requisitos, mas que possamos escalar conforme a entrega. Se ele faz uma entrega de A a F ele tem uma remuneração, mas se ele tem mais expectativas sobre ele e ele tem a capacidade de entregar, então podemos incrementar essa remuneração, e isso vai fazer o profissional ter interesse em se desenvolver.

Durante o último Facilities Show em Londres, a contratação foi mencionada como um dos principais desafios atuais das operações. Como você acredita que este relatório sobre salários e benefícios poderia ajudar a abordar esse problema?

Eu acho que é muito cultural e forma de reconhecimento. Existem muitos profissionais que têm um conhecimento muito amplo, muito aprofundado no setor e na área de facilities, no mercado e tudo mais, mas não tem o reconhecimento. As empresas contratam um colaborador, pagam o salário que definem que o colaborador deve receber, e diante de um acordo as duas partes aceitam.

Só que as empresas se acomodam, elas acreditam que podem continuar porque “o combinado foi feito”, “o acordo foi cumprido”. Mas no decorrer do tempo, o profissional vai se especializando, vai atuando e resolvendo problemas, construindo e agregando valor à função e às equipes de trabalho, e esse conhecimento/experiência não é das empresas, e as corporações esquecem disso. É mais barato criar um plano de retenção para uma pessoa que se desenvolveu na sua casa, do que trazer alguém novo e sem ter conhecimento sobre a realidade da empresa.

A prata da casa quando não é reconhecida, ela vai embora e ela leva o que tem com ela. E ela leva conhecimento técnico, conhecimento teórico, estratégia da empresa e leva até o time. Sim , porque ela montou um time, ela desenvolveu pessoas, ela desenvolveu estratégias. E quando ela vai embora, tudo isso não fica na empresa, ela leva com ela. 

Então as empresas têm que entender que a remuneração que eles definiram no momento da contratação, já não valem mais, o profissional pode valer três, quatro vezes mais. E então quando as pessoas estão trabalhando de cabeça baixa elas têm um valor, quando elas entregam a carta de demissão, passam a valer o dobro ou até o triplo. E isso precisa mudar, porque alguém que está indo embora está levando muita coisa junto com ela, muito conhecimento.

E a mensagem que as empresas passam muitas vezes é: Até agora eu achava que você não valia, agora que eu sei que você vale (porque alguém de fora percebeu) vou te fazer uma oferta. O mercado precisa mudar: as percepções também e mais exatamente as ações.  Na teoria tudo é muito fácil de dizer e fazer, mas na prática não é. Valorizar pessoas ao invés de coisas é um aprendizado diário e uma responsabilidade de todos nós, líderes e executivos que têm prioridade em desenvolver pessoas e fortalecer corporações  do futuro.

Existe um discurso pronto de uma boa parte dos gestores, diretores e executivos que a culpa é da falta de budget. Mas a questão  é que nem sempre é o salário que conta. Mais do que salários, as corporações precisam entender que o resultado é consequência de um conjunto de fatores. E quando o profissional faz parte da construção em conjunto das metas e desafios, o rumo e o resultado é o mesmo! E todos saem ganhando.

Em sua opinião, como você acredita que este relatório pode beneficiar outros profissionais do setor de facilities e manutenção? Que impacto você acredita que terá na comunidade IFM como um todo?

Eu acredito que a pesquisa de salários e benefícios pode dar um norte para aqueles colaboradores que estiverem buscando melhoria nos seus cargos e crescimento na carreira. Mas mais do que isso, elas podem entender o momento que as empresas estão e o que elas tendem a oferecer para o mercado, a fim de que esses profissionais possam tomar decisões de forma mais assertiva e consigam, na verdade, fazer uma carreira baseada em dados e fatos, não simplesmente em deduções como: eu ouvi dizer, me disseram, ou alguma rede social disse que o cargo lá está pagando bem. 

Nós vamos ter uma referência e dados reais para poder tomar uma decisão.

Agradecemos aos membros da IFM por compartilharem suas perspectivas e experiências sobre o Relatório de Remuneração e Benefícios. Juntos, fortalecemos nosso setor para um futuro mais sólido para os profissionais de facilities e manutenção.