Embora pareça que a Indústria 4.0 tenha chegado há muito pouco, a Indústria 5.0 já está virando a esquina. Mas, o que é a Indústria 5.0? Em vez de aplicar a tecnologia apenas para alcançar a máxima eficiência e lucro, a Indústria 5.0 defende que a tecnologia deve ser utilizada para maior sustentabilidade e justiça social. Há uma mudança de abordagem, sendo agora centrada no ser humano. 

 

Será que Manutenção e Facility Management vão mudar com a Indústria 5.0? E como isso vai acontecer? Falamos com especialistas da indústria de vários países (Reino Unido, Espanha, Portugal e Brasil) para conhecer as previsões deles sobre os  futuros desafios e tendências de Facility Management.

 

Facility Management centrada no ser humano 

 

A maior mudança será no sentido da experiência do usuário, desafiando o foco primordial na eficiência operacional. Rui Gomes, Country Manager da ISS Facility Services Portugal, diz que “experiência” é a palavra certa para descrever o futuro da FM. Ele prevê que os departamentos de FM vão se aproximar cada vez mais dos Recursos Humanos: “[os RH] nos dão um feedback precioso em relação às experiências e de que forma podemos envolver os usuários. As pessoas estão no centro da equação.” 

 

Cláudio Azevedo compartilha desta visão. O CEO da APP Sistemas, uma empresa brasileira de FM especializada em serviços de hotelaria, também acredita que “experiência” é a palavra certa para o futuro. “Experiência. Principalmente nos empreendimentos do setor de turismo, o que já é um pouco mais simples de incluir no atendimento e nas atividades propostas ao hóspede. Mas isso também será uma realidade para hotéis de negócios, que vão precisar oferecer experiências mais completas e que correspondam às necessidades do seu público.”

 

No entanto, ele adverte que proporcionar aos hóspedes “uma experiência acolhedora e centrada no ser humano, mesmo quando as atividades são automatizadas” implica encontrar um bom equilíbrio entre o ser humano e as máquinas. Joaquín Olivares, investigador da Universidade de Córdoba, na Espanha, acrescenta: “Até agora, as pessoas têm se adaptado às máquinas, e a Indústria 4.0 tem feito avanços em termos de automatização adaptativa e inteligente. O desafio para os próximos anos é a coexistência de pessoas e máquinas, porque para isso é preciso melhorar a interação entre ambos.”

 

A tecnologia aponta o caminho

 

Miguel Valério, chefe de Facility Management da Critical Software, concorda que uma das maiores tendências para o futuro é a sinergia entre o ser humano e a tecnologia. “Veremos locais de trabalho inteligentes, em que a sinergia entre o mundo físico e o virtual será cada vez mais explorada.”  Salienta também que  “as decisões baseadas em dados vão permitir melhorar a experiência do ocupante, ao mesmo tempo que otimizamos os custos e o desempenho da organização.

 

Porém, escolher a tecnologia certa, que proporciona a melhor experiência aos usuários enquanto auxilia os gestores nas suas decisões, é um desafio. Paul Ashton, CEO da Birkin Cleaning Services, acredita que um dos maiores desafios é de fato “compreender qual é o melhor investimento entre tantas possibilidades”. No entanto, não duvida que “a chave do nosso futuro é como integrar os humanos com todos os aspectos da tecnologia”, incluindo a cobótica e tecnologia de sensores.

 

Roberpaullo Eller, Facility Manager do Grupo Orion, uma das maiores empresas brasileiras trabalhando em FM, sintetiza perfeitamente: “O setor está cada vez mais tecnológico, não há como escapar. Tanto o profissional como a empresa de FM precisam entender a gestão, mas também precisam de conhecimentos sobre tecnologias de informação, banco de dados, IA, machine learning, data science, etc. O desafio daqui para a frente não é só aderir à tecnologia, é saber o que fazer com essa tecnologia.” 

 

 

Formação e upskilling

Então, como as empresas podem enfrentar este enorme desafio? Como Roberpaullo Eller, Irimar Palombo, da Associação Brasileira de FM (ABRAFAC) salienta que usar a tecnologia disponível pressupõe conhecer muito bem os conceitos técnicos da área, especialmente da manutenção predial. Portanto, os peritos que entrevistamos aconselham que uma transformação digital completa requer upskilling e formação profissional.

 

Léa Lobo, gestora de conteúdos da revista brasileira “InfraFM”, chega ao ponto de dizer que as maiores tendências para o futuro são “upskilling e formação”. Léa considera que o investimento em sistemas digitais tem que ser acompanhado por uma formação adequada, o que, infelizmente, tem sido negligenciado devido à instabilidade econômica. Cláudio Azevedo acrescenta que “para oferecer uma experiência completa, segura e prática aos hóspedes, os gestores têm que ajustar os processos, treinar pessoas e investir nos seus negócios.”

 

Mesmo que uma transformação digital implique um “upskilling“, vai diferenciar as empresas. Dado que “o futuro será certamente mais competitivo” e que “o desempenho será fortemente escrutinado”, Miguel Valério explica que é precisamente a capacidade de implementar novas tecnologias e fornecer serviços de FM de “forma diferenciada” que vai distinguir as empresas quando se procura um fornecedor.

 

Resiliência, Sustentabilidade e Ética

 

Devido à ênfase nas pessoas e na transformação digital, esperamos também que a indústria 5.0 torne as empresas mais ágeis e resilientes – muito mais do que eram antes da pandemia. Guillermo Miró, engenheiro de aplicações da empresa espanhola ATTEN2, que desenvolve tecnologias de monitoramento, espera que isto aconteça também na Manutenção e FM:  “As novas tecnologias vieram trazer mais resiliência a estes tempos complexos e a flexibilidade de todos os agentes também vai contribuir para esta resiliência.”

 

Embora a resiliência conduza a uma maior prosperidade, não é o único contributo da Indústria 5.0 para a sociedade. Rui Gomes acrescenta que a FM pode melhorar a sustentabilidade dos edifícios e explica que “Os clientes têm metas ambiciosas já definidas e esperam que os fornecedores de FM os ajudem a alcançá-las.”. Além disso, Irimar Palombo prevê que as empresas de sucesso “vão agir de uma forma ética” e que “Os ESG [os ​aspectos ambientais, sociais e de governance] devem nortear o compromisso ético das empresas em todas as decisões.” 

 

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