Nascida em 1998, a Critical Software tem hoje mais de 1000 funcionários espalhados por 10 escritórios em Coimbra, Porto, Lisboa, Londres, Munique e San Jose (Califórnia). Especializada em desenvolvimento de software e engenharia de sistemas, a empresa conta com clientes como a Agência Espacial Europeia, a NASA, a Airbus ou a Agência Europeia da Segurança Marítima.
A Critical é também uma das poucas empresas de software em todo o mundo com o nível 5 de acreditação CMMI, o que demonstra uma cultura ágil e uma procura por melhorias contínuas. Portanto, o FM da Critical também tem que ser capaz de responder às exigências de tantos colaboradores mantendo uma metodologia ágil e uma visão estratégica do negócio.
Foi precisamente sobre a adaptabilidade do FM que conversamos com Miguel Valério, diretor de Facility Management na Critical Software desde 2018. Devido à sua ampla experiência no setor, ele foi um dos peritos que consultamos sobre as tendências de FM. Publicamos agora a entrevista na íntegra sobre os desafios que enfrentamos e os fatores determinantes para o futuro do FM.
Miguel, qual vai ser o principal desafio do facility management esse ano?
O maior desafio será, com certeza, ter a abertura e capacidade para enquadrar o FM sob um modelo estratégico, em detrimento dos modelos puramente operacionais do passado. Essas são exigências das tendências atuais e futuras. A gestão ágil, flexível, com uma enorme capacidade de adaptação, faz parte do DNA de qualquer FM.
No entanto, este deverá ser um desafio constante. Assim, permitimos que a organização mantenha o foco no seu modelo de negócios com a confiança de que toda a operação está sendo suportada da melhor forma e pelo menor custo possível. Nesse sentido, a integração de serviços será uma das tendências com maior adesão. Esta abordagem permite que as equipes internas foquem em atividades de maior valor acrescentado e que geram resultados mais positivos, seja para a gestão e/ou para os ocupantes.
“A flexibilidade, a colaboração e a experiência devem nortear os futuros espaços de trabalho”
O impacto da pandemia de COVID-19 no FM vai continuar a ser sentido?
O espaço de trabalho, que está em um processo de evolução constante, representa um segundo desafio. Em um curto espaço de tempo, as novas políticas, abordagens e hábitos de trabalho provocaram uma mudança nos paradigmas de uso dos espaços em uma grande parte das indústrias. E existirão pontos elementares que devem nortear os futuros espaços de trabalho:
- a flexibilidade, com a capacidade dos espaços serem adaptáveis a cada atividade e/ou circunstância. Isto oferece à organização a certeza de que as suas infraestruturas são otimizadas e ao ocupante a possibilidade de desenvolver o seu trabalho com uma variedade de opções à sua disposição;
- a colaboração, ou seja, a maneira como os espaços proporcionam melhor comunicação, a interação entre equipes e a produtividade, de forma confortável, eficiente e com segurança;
- a experiência, que permite a uma organização entregar algo diferenciado no conjunto do que é uma jornada de trabalho.
“Veremos locais de trabalho inteligentes, com um ecossistema totalmente digital, onde a sinergia entre o físico e o virtual será cada vez mais explorada.”
A pandemia também acelerou a transformação digital em muitos setores e o FM não foi exceção. Quais implicações e mudanças você prevê no futuro?
A tecnologia poderia ser sinônimo da palavra “futuro”. Muito do que será o futuro do FM estará diretamente dependente da tecnologia. O FM está, neste momento, passando por uma transformação digital, que terá um crescimento exponencial durante os próximos anos. Nesta fase, pelo ponto de vista da gestão, contamos com sistemas automatizados, sensores e informações agregadas para os decisores em plataformas digitais.
No futuro, estas plataformas serão cada vez mais em versão mobile para todos os elementos da cadeia da operação, desde a gestão até a operação. Já no plano do ocupante, a tecnologia e o FM terão possibilidade de evoluir e veremos locais de trabalho inteligentes, com um ecossistema totalmente digital, onde a sinergia entre o físico e o virtual será cada vez mais explorada.
Quais tecnologias vão suportar esses locais de trabalho inteligentes?
Se pensarmos no potencial que existe entre a integração de sistemas de IoT e a realidade aumentada, rapidamente damos asas ao engenho e identificamos uma série de casos de uso para as nossas instalações e para a personalização da experiência de cada usuário. Por isso, a realidade aumentada será uma das grandes tendências a médio prazo.
Em paralelo, a robótica e a normalização do seu uso também crescem, seja em operações de limpeza, seja no manuseio de produtos químicos e/ou perigosos, contribuindo para aumentar os padrões de segurança. A tomada de decisão será totalmente baseada em dados, devidamente trabalhados e provenientes de várias fontes totalmente integradas, permitindo estimar e decidir, no sentido de melhorar a experiência do ocupante, o custo e o desempenho da organização.
Além dos desafios que vamos enfrentar durante esse ano, com todas as alterações nos hábitos de trabalho, e das tecnologias que vão surgir a médio prazo, qual deve ser a nossa principal preocupação a longo prazo?
O desafio final se prende com a sustentabilidade. Sem ela não haverá futuro. Este é o desafio de todos e o FM não é exceção. Muito pelo contrário. Devemos assumir esta responsabilidade e o FM deve contribuir para a introdução de várias medidas e investimentos sustentáveis como, por exemplo, equipamentos provenientes de matérias recicladas e fontes de energia renovável. Devemos definir medidas sustentáveis nos espaços de trabalho e dinamizar esta temática para todos os que circulam nas instalações.
Não restam dúvidas que as grandes mudanças para as empresas devem ser acompanhadas por grandes mudanças no âmbito no Facility Management. No entanto, sabemos que nem sempre é um sector prioritário para as empresas. Como é que os gestores podem mudar este paradigma?
A adaptabilidade será a chave para enfrentar os novos desafios. Ainda que exista uma visão clara sobre o futuro, nem sempre é possível avançar e implementar tudo o que seria desejável. Isso porque o equilíbrio financeiro e a disponibilidade de investimento são condições importantes, em boa parte, para a normalização da inovação no FM.
A gestão de custos é o primeiro ponto a ser ultrapassado para introduzir novos elementos de digitalização e tecnologia. Por esse motivo, entregar o essencial – que é garantir os níveis de serviço, a segurança e a eficiência da operação – é a base para, progressivamente, introduzir mais inovação e demonstrar o seu valor acrescentado à organização.
“As empresas de FM terão de evoluir do paradigma da manutenção per si para a entrega de serviços integrados: gestão, operação e gestão de projecto”
Depois de ultrapassado o desafio da gestão de custos, e supondo que há alguma disponibilidade para novos investimentos, como o FM se pode tornar imprescindível?
O FM deverá ter um papel central na inovação do negócio. Começando logo no aconselhamento e na definição dos desafios que a empresa enfrenta, passando pelo suporte e implementação da solução. Aqui, a intervenção do FM vai desde o plano logístico ao plano de inovação do espaço de trabalho, até à gestão de novos projetos. O equilíbrio entre a otimização de recursos e a gestão de expectativas dos vários stakeholders será sempre um enorme desafio na preparação do caminho futuro.
As empresas de FM terão que evoluir do paradigma da manutenção por si só para a entrega de serviços integrados. Esta integração deve abranger a vertente de gestão, operação e gestão de projetos. No plano da gestão, as estruturas que permitem entregar esse serviço ainda precisam de ser criadas ou precisam evoluir. Mais do que de forma pontual, devem existir de forma complementar, a montante da operação.
No plano operacional, o foco no usuário final deverá ser cada vez mais prioritário para contribuir ativamente para a experiência positiva dos ocupantes e, consequentemente, para a produtividade do negócio. No plano da gestão de projeto, em um futuro que se antevê com um maior ritmo de mudança, o foco deve estar na integração entre a operação e a gestão de projeto, que poderá ir desde planos de contingência até fit-outs de espaços. A capacidade de entregar este tipo de valor, aproveitando a relação, as sinergias e o histórico existentes, será certamente um modelo vencedor para todos os envolvidos.
Considerando que o FM é um setor onde prevalece o outsourcing, a capacidade de entregar esse tipo de valor acrescentado é a melhor forma dos prestadores de serviço se destacarem da concorrência?
A adoção de novas tecnologias e uma forma diferenciada de prestar serviços farão a diferença no momento de decidir entre contratos semelhantes, particularmente em um futuro que será, com certeza, muito mais competitivo e onde o valor entregue estará nos detalhes.
“Todas as ferramentas, tecnologias e melhorias de processos que nos ajudem a tomar melhores decisões vão permitir que o FM seja mais eficiente e um valor acrescentado para organização onde se insere.”
Você já disse que a tecnologia “podia ser sinônimo da palavra futuro”. Essa é a melhor palavra para descrever o futuro do setor?
A melhor palavra para descrever o futuro é inovação. Várias palavras poderiam definir o futuro do FM, desde “adaptabilidade” ou “antecipação”. No entanto, é pela inovação que o futuro será pautado, a vários níveis e em diferentes contextos do setor.
A própria filosofia do FM, a de antecipar os problemas, é crucial. Portanto, todas as ferramentas, tecnologias e melhorias de processos que nos ajudem a tomar melhores decisões vão permitir que o FM seja mais eficiente e gerem um valor acrescentado para organização onde se insere.
O FM será sempre o agente que, após identificar vários desafios, implementa e entrega a solução que permite um crescimento sustentado e a produtividade dos ocupantes. E, consequentemente, o sucesso do negócio. Em um mundo em constante evolução, quem inova abre caminho para transformar as tendências de hoje nas normas do amanhã.