A comunidade científica ainda sabe pouco, muito pouco, sobre a COVID-19. Mas, com base no que já sabemos, tanto a Organização Mundial da Saúde como a Ordem dos Engenheiros recomendam uma série de medidas para prevenir a propagação da COVID-19 em edifícios. Além do distanciamento social e de outras medidas de prevenção em facility management, os gestores de manutenção devem ter cuidados redobrados com os sistemas AVAC (aquecimento, ventilação e ar condicionado) e distribuição de águas.
Todas as medidas de que vamos falar para facility managers são válidas para edifícios residenciais e não-residenciais onde se concentram grandes números de pessoas, como escritórios, hotéis, escolas ou centros comerciais. Os hospitais, centros de saúde, clínicas e outros locais de atividades clínicas devem seguir sempre as orientações e normas mais recentes da Direção Geral da Saúde.
É possível a COVID-19 propagar-se em edifícios?
Resposta curta: sim. Até agora [1 de Abril de 2020, data de redação deste guia], conhecemos pelo menos três métodos de contágio SARS-CoV-2 (o vírus que causa a COVID-19):
- Contacto direto com uma pessoa ou uma superfície infetada, se depois a mão entrar em contacto com uma mucosa (boca/ nariz/ olhos);
- Inspiração de gotículas virais, que os infetados expelem quando falam, tossem ou espirram (que podem ficar até 3 horas no ar e projetar-se vários metros);
- Contaminação oral-fecal (reconhecida em Março, uma vez que o vírus é excretado nas fezes).
É nestas duas últimas formas de contágio que os facility managers precisam de se focar. Sabemos que o SARS-Cov-2 foi detetado nas condutas de exaustão de enfermarias e zonas COVID-positivas (ou seja, destinadas a tratar pacientes com a doença). Isto reafirma a hipótese de as partículas se projetarem muito mais do que 1-2 metros em sítios fechados e obriga-nos a reavaliar a melhor forma de ventilar estes espaços.
Por outro lado, as partículas que entram no sistema de distribuição de águas foram uma via de transmissão ativa do SARS-CoV-1, o responsável pelo surto de SARS em 2002-2003 na Ásia. As transmissões de SARS através das condutas provaram-se em Hong Kong, onde 107 pessoas que viviam no mesmo bloco vertical de apartamentos ficaram infetadas com a doença. Por isso, e ainda sem certezas sobre a transmissão aérea de partículas de SARS-CoV-2, as normas europeias pedem uma abordagem ALARA (“as low as reasonably achievable”) ao risco – ou, em bom Português, a velha máxima “mais vale prevenir do que remediar”.
Medidas de gestão de manutenção para prevenir a propagação de COVID-19 em edifícios e locais de trabalho
Com base na informação de que dispomos, estas são as práticas e tarefas preventivas que os gestores de manutenção devem adotar para prevenir a propagação de COVID-19 em edifícios através de sistemas AVAC. (Nota: À medida que vamos descobrindo mais sobre a COVID-19 e o comportamento do SARS-CoV-2, é expectável que as instruções da Ordem dos Engenheiros e da REHVA venham a ser revistas e melhoradas.)
Ventilação e extração do ar durante a epidemia de COVID-19
A melhor forma de garantir que as partículas virais não ficam a “pairar” em zonas comuns é aumentar a ventilação dos edifícios e extrair o ar:
- Ligar a ventilação 24/7, ainda que seja num regime baixo;
- Se possível, para evitar o contágio oral-fecal, ventilar as instalações sanitárias com pressão negativa;
- Abrir as janelas mais do que o habitual, nem que comprometa o conforto térmico, especialmente em salas que foram usadas previamente por terceiros;
- No caso de um compartimento ter sido usado por alguém com suspeita ou infeção confirmada de COVID-19, deve deixar arejar naturalmente pelo menos durante 3 horas.
Recirculação do ar em sistemas AVAC & Aquecimento
Como as partículas de SARS-CoV-2 podem permanecer nas condutas de exaustão, é essencial evitar a recirculação de ar em sistemas AVAC para prevenir a COVID-19:
- Nas Unidades de Tratamento de Ar que aproveitam o ar e o recirculam, as secções de mistura devem ser fechadas mesmo que tenham filtros (uma vez que se tratam de filtros não HEPA e que deixam passar micropartículas de SARS-CoV-2);
- Os ventiloconvetores devem ser desligados e, na eventualidade de não ser possível, devem ser desinfetados criteriosamente;
- Os permutadores de calor e recuperadores de calor devem ser desligados, com a exceção dos sistemas que conseguem fazer a separação total do ar de admissão e do ar de retorno;
- Os purificadores de ar só funcionam em compartimentos muito pequenos (<10 m2) e por isso só têm benefícios se forem instalados muito perto das pessoas – no geral, a ventilação adequada dos espaços oferece muitos mais benefícios;
- Deve instalar filtros HEPA em salas sem janelas e em circuitos fechados, que são os únicos capazes de filtrar as micropartículas de vírus.
Alterar o plano de manutenção por causa da COVID-19?
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Distribuição de águas e contágio de COVID-19 através da canalização
Os problemas no sistema de distribuição de águas e nas condutas potenciam a via de contágio fecal-oral. Por isso, há duas coisas a que deve prestar atenção:
- Descargar o autoclismo sempre com a tampa fechada, para evitar a propagação de partículas;
- Evitar que os sifões e as loiças fiquem sem água e manter o nível de água, o que impede que as descargas e partículas de vírus voltem a “reentrar” no ambiente – para isso, use todos os pontos de água a cada três semanas.
Regulação da humidade e da temperatura para prevenir a COVID-19
Embora alguns vírus sejam altamente sensíveis a mudanças nos níveis de humidade e de temperatura, o novo coronavírus é especialmente resistente. O SARS-CoV-2 só é sensível a uma humidade acima de 80% e a temperaturas acima dos 30ºC, que não são condições viáveis para edifícios de escritórios (nem para alojar pacientes). Portanto, não vale a pena fazer ajustes à humidade e à temperatura do ar condicionado para prevenir a COVID-19.
Quer saber mais sobre este tema?
Os nossos clientes e amigos da PLM Facility Management desenvolveram um conteúdo sobre as implicações da COVID-19 na manutenção e na exploração das instalações.
→ Descarregue o PDF aqui.
Com as medidas apresentadas neste artigo e no conteúdo da PLM, já estará a fazer muito para prevenir novas infeções de COVID-19. Por isso, só nos resta mesmo dizer: para grandes males, facility management.