Conversamos com Tales Nascimento, coordenador de operações na brMalls – holding de Shopping Centers do Brasil e da América Latina, com 29 empreendimentos nas cinco regiões do Brasil. Tales fala sobre os problemas mais comuns no mercado hoje, referências e padrões e o que podemos esperar do futuro.
Acompanhe abaixo a entrevista na íntegra.
Infraspeak – Quais são os problemas encontrados por gestores de facilities hoje?
Tales – Quando falamos de orçamento, há sempre problemas. Por ser uma área as vezes vista como o “departamento que gasta” da empresa, constantemente a área de facilities é pressionada para reduzir custos para melhorar resultados de curto prazo de uma empresa, logo o gestor de facilities deve saber administrar bem o orçamento disponível e garantir que ele agregue valor à empresa.
Um outro problema é a questão da qualidade. Na contra mão do corte de gasto a área é sempre cobrada por alto padrões de qualidade, muitas vezes o trade-off não é levado em conta e cabe ao gestor saber gerenciar o corte do orçamento com possível perda de qualidade.
A gestão de equipes também é complexa. Normalmente com turnover elevado, o gestor de facilities deve além de ter conhecimento técnico sobre o negócio, ter skills para reter os funcionários e mantê-los motivados.
O cumprimento de prazos é outro problema. Por ser constantemente cobrado por diversas áreas, o gestor de facilities deve conseguir organizar as atividades e também ter seu escopo bem definidor para cumprir além das tarefas preventivas os pedidos de outras áreas dentro da hierarquia organizacional.
Como citado no ponto acima, o gestor de facilities possui vários “chefes” na organização pois é responsável por dar apoio a varias áreas, cabe ao gestor administrar bem esses pedidos para não causar atraso nas entregas vitais para o empreendimento.
Infraspeak – O que causa esses problemas?
Tales – As questões de orçamento e qualidade, por serem setores não geradores de receita, são normalmente atacados a curto prazo, para melhorar resultado da empresa. Já os prazos e a hierarquia, por ser uma atividade que apoia várias áreas, muitas vezes tem o gestor cobrado de forma exagerada por uma atividade que não gera muito valor à empresa.
Infraspeak – Dentro da hierarquia operacional em uma empresa qual é a função principal dos profissionais?
Tales – A função do técnico é garantir o cumprimento das atividades de campo seguindo normas e procedimentos corretos. O gestor de manutenção deve elaborar escopo do time de campo, seguindo manutenções prioritárias e preventivas dos equipamentos, além de contratar e reter funcionários de base.
O gestor de Facilities é quem gere o contrato da prestação de serviço, contrata e retém funcionários de liderança, enquanto o gerente geral é responsável pela gestão dos contratos, prospectando novas oportunidades e também garantindo o modus operandi dos contratos existentes, assim como receber reports dos gestores de facility.
O papel do diretor de TI é garantir o funcionamento adequado das inovações/tecnologias implantadas para facilitar trabalho do gestor de facilities. E o proprietário é responsável pela área comercial e manter contato com novas oportunidades.
Infraspeak – Qual é o cenário atual das questões de segurança operacional e de manutenção?
Tales – Vejo as empresas se importando cada vez mais com a segurança operacional e de manutenção, criando ou terceirizando departamentos especializados por garantir a manutenção/conservação de seus equipamentos, não postergando o prazo de manutenção dos equipamentos.
Infraspeak – Quais são os impactos da Indústria 4.0 no mercado?
Tales – A Indústria 4.0 melhora a tomada de decisão dos gestores, dando insumos em tempo real para garantir maior assertividade de um processo/ação. Também permite a redução nos custos de produção uma vez que se prevê uma modernização nos processos e nos equipamentos da indústria. E ainda, promove uma alteração na cultura organizacional provocada por uma possível mudança de organograma, o profissional passará a ter uma atividade muito mais gerencial do que mão na massa.
Infraspeak – E os impactos da IoT?
Tales – A Internet das coisas melhora a tomada de decisão dos gestores, uma vez que espaços físicos passam a ser monitorados e causa a mesma mudança na cultura organizacional provocada por uma possível mudança de organograma, o profissional passará a ter uma atividade muito mais gerencial do que mão na massa.
Infraspeak – Em termos operacionais quais são os principais problemas hoje?
Tales – Profissionais comprometidos no chão de fábrica e engajados com a empresa buscando crescimento e consequentemente agregando valor à organização e a dificuldade do time de campo em seguir procedimentos, impactando na produtividade e na segurança operacional da empresa.
Infraspeak – Em que nível está a maturidade do mercado brasileiro?
Tales – Acredito que esse ponto deve ser separado por grandes empresas e pequenas. Nas grandes empresas vejo operações bem definidas, preocupadas com procedimentos operacionais, com a segurança e com softwares apoiando o trabalho do gestor. Nas pequenas empresas vejo pouca ação voltada para a segurança e cumprimento de procedimentos operacionais, acredito que tal decisão se deve a incerteza do mercado e pelo alto investimento necessário para mudar a empresa de patamar.
Infraspeak – Qual país é a referência quando o assunto é operações e manutenção?
Tales – A Alemanha possui vários procedimentos que passam a ser referencia na área de engenharia e vejo as grandes empresas brasileiras como Vale e Ambev, por exemplo muito bem preparadas tanto na área de gestão de manutenção como também na segurança do trabalho.
Infraspeak – Onde os profissionais buscam crescimento na carreira neste setor?
Tales – Varias escolas profissionalizantes estão criando cursos de MBA para gestores de manutenção, há também os cursos online de pequena duração e constantes pesquisas e artigos publicados na internet.
Infraspeak – O que esperar deste mercado para os próximos 5 anos?
Tales – Podemos esperar por um mercado fortemente amparado pela tecnologia – IoT, Industria 4.0 -, com poucos profissionais porém com responsabilidades maiores, por profissionais com multitarefas e voltados para tomada de decisão e resolver problemas pontuais. Também teremos áreas de facilities “unitárias” que atuam como células para trabalhar nas varias filiais das empresas.
Ex: Os shoppings administrados pela Simon nos EUA possui apenas uma equipe responsável para cuidar da limpeza dos shoppings próximos, se locomovendo e seguindo cronograma pré-definido em cada local.
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