Entrevistamos Marcelo José de Souza, profissional presente há mais de 30 anos no mercado de operações, manutenção e gestão de facilities. Hoje ele é analista sênior de manutenção elétrica na Manserv, uma empresa brasileira com foco na prestação de serviços para as áreas de manutenção, infraestrutura e logística, atendendo diferentes setores da economia.

Marcelo fala do contexto atual dos profissionais, empresas, mercado e gestão operacional no setor de facilites. Acompanhe abaixo.

Infraspeak – Quais são os principais problemas encontrados por gestores de facilities hoje? 

Marcelo – Os principais são:

  1. O alcance e performance de uma produtividade no patamar dos 55%;
  2. Redução sistemática do desperdício nas operações. É necessário reduzir sem perder a qualidade;
  3. Encontrar no mercado mão-de-obra com engajamento e qualificação para as diversas atividades do setor, levando em conta o aspecto de diversidade de ambientes e categorias de indústrias; 
  4. A cultura da mão-de-obra brasileira, comumente carregada de aspectos negativos comportamentais. Um reflexo da construção comodista; 
  5. A identificação de falhas é outra dificuldade, erros em facilities devem ser antecipados. E não podem passar despercebidos para que a satisfação do cliente seja mantida.

Infraspeak – E quais são as causas desses problemas?

Marcelo – Uma das causas é a dificuldade em manter um acompanhamento e inspeção criteriosa nas frentes de serviço, calculando o tempo de cada operação e padronizando as tarefas de acordo com o tempo necessário. O controle do uso de insumos e materiais na aplicação direta na frente de serviço também.

Hoje não há uma preocupação dos novos profissionais na continuidade de carreira nas empresas, a mudança, muitas vezes, é motivada por muito pouca diferença salarial e ou condições de trabalho.

E, por fim, o processo de qualificação e construção cultural em empresas.

Infraspeak – Dentro da hierarquia operacional qual é a função do:

Marcelo – O técnico planeja as manutenções nas máquinas e equipamentos, supervisionam e mantêm o processo de conservação e operação dos ativos. O gestor de manutenção é responsável por controlar os processos de manutenção de diversas áreas e/ou equipamentos, controlar os KPI’s , implementar novos projetos Kapex e similares para as melhorias dos controles e funcionamento do processo produtivo.

O gestor de facilities é o responsável pelo funcionamento da empresa ou unidade de trabalho. É quem elabora o planejamento estratégico focando na execução de todos os produtos e serviços. Já o gerente geral, é quem traça a estratégia,  planeja, organiza e da suporte às áreas internas da empresa como recursos humanos e operacional.

O diretor de TI se encarrega de acompanhar as necessidades e prioridades dos usuários, definindo estratégias e planos de investimento para promover a empresa e captar recursos, enquanto o CEO, a pessoa com o mais alto cargo hierárquico na empresa, é que tem a visão geral e define o rumo e as metas de alcance do negócio.

Infraspeak – Qual é o cenário das questões de segurança operacional e de manutenção hoje?

Marcelo – Com a diminuição das margens de lucro e a dificuldade de recuperação de perdas na produção, hoje há uma necessidade de, cada vez mais, aumentar a segurança operacional, garantir que o processo produtivo tenha maior controle e tenha uma diminuição sistemática de paradas acidentais, exigindo cada vez mais uma manutenção assertiva e preventiva das questões de paradas do processo.

Infraspeak – Quais são os impactos da Indústria 4.0 no mercado e nos profissionais atualmente?

Marcelo – No mercado, a Indústria 4.0 garante o maior controle de qualidade e visão geral dos processos, traz a possibilidade de aplicação de novas tecnologias na produção e torna muitas empresas mais lucrativas. Por outro lado trouxe muita instabilidade para o mercado de trabalho com a provável redução de postos de trabalho. Entretanto, com esse avanço diversos outros postos surgirão no futuro em áreas hoje não exploradas.

Infraspeak – E os impactos da IoT (Internet das Coisas)?

Marcelo – A internet das coisas trouxe para o mercado muitas possibilidades, como exemplo, a comunicação de vários equipamentos e as possibilidades de diagnóstico com maior rapidez e precisão. Os profissionais hoje tendem a se desmotivar frente a essa gama de possibilidades que a IoT apresenta. Porém, com o tempo se atualizarão para acompanhar esse processo.

Infraspeak – Em termos operacionais, quais são os principais problemas?

Marcelo – Comunicação assertiva; Segurança e saúde; Qualificação de mão de obra; Nível cultural da mão de obra executante; Maturidade.

Infraspeak – O quão maduro está o mercado brasileiro hoje em relação ao resto do mundo?

Marcelo – É uma maturidade que, em termos comparativos de amadurecimento, está em processo de construção. Trata-se do reflexo de um nível cultural de exploração da mão-de-obra e desvalorização do profissional e supervalorização do processo produtivo. Frente aos avanços internacionais e da compreensão destes conceitos, estamos muito aquém de grande parte do mundo, onde o nível de entendimento cultural e de valorização da mão-de-obra já supera a disciplina independente.

Infraspeak – Qual país é a referência quando o assunto é gestão de operações e manutenção?

Marcelo – Alemanha

Infraspeak – Como os profissionais buscam desenvolvimento na carreira neste setor?

Marcelo – Em cursos profissionalizantes, cursos superiores, na capacitação específica e especializações que atendem o mercado.

Infraspeak – O que esperar do mercado para os próximos 5 anos?

Marcelo – É de se esperar um crescimento gradativo. O setor tem se desenvolvido significantemente. Ao longo dos últimos anos ficou esquecido e menosprezado com o boom das qualificações em outras áreas da indústria. 

Infraspeak – O que gostaria que as pessoas soubessem do seu trabalho e da sua equipe?

Marcelo – Para sobreviver neste mercado é necessário que tenham engajamento, assim como eu. Que façam o melhor e não somente que façam o que são pagas para fazer, que o segredo do bom resultado é ter equipes fortes e unidas como a minha. É preciso ser comprometido com o resultado global sempre executando com segurança e qualidade. O mundo está em constante transformação e as relações e interações dos indivíduos na sociedade também. É necessário que busquemos nos atualizar e estarmos preparados para atender as necessidades do mercado de trabalho e focar sempre em um processo de melhoria contínua.

 

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