A comunidade IFM — Intelligence for Maintenance reuniu profissionais do mundo do facility management e manutenção que partilham a sua paixão pelo setor. Com o objetivo de compreender melhor as experiências destes membros na comunidade e o seu interesse no nosso Estudo de Salário e Benefícios em FM & Manutenção, realizámos uma série de conversas que hoje partilhamos.

Nesta entrevista, falámos com Helder Rocha, um membro destacado da IFM, para conhecer a sua perspetiva e experiência.

Conte-nos um pouco sobre a sua trajetória profissional e o que o levou a fazer parte da comunidade IFM.

Sou licenciado em Eletrotecnia, os primeiros 10 anos de carreira foram dedicados a Project Managment na área de construção civil e obras públicas, tanto em componente de elaboração de projetos, como construção/reabilitação, fiscalização, etc. Por isso, o “edifício” e as “infraestruturas” sempre fizeram parte do meu dia a dia.

Neste percurso, surgiu uma possibilidade de sair da zona de conforto, ir para a indústria, no caso a Bosch Portugal, na função de Facility e Maintenance Manager, e foi fantástico poder aliar todo o know-how técnico que possuía de edifícios e infraestruturas, e desenvolver soft skills relativas à sua gestão, manutenção e expansão, assim como todos os ativos que os compem.

Toda a abrangência de know-how desde início de um projeto, que começa como um “greenfield” e termina num edifício com centenas de ativos para gerir, sempre com uma componente muito forte de gestão de equipas, é algo que me deslumbra. Olhando para trás tem sido enriquecedor adquirir todas estas valências.

Sobre fazer parte do IFM Summit em Lisboa, foi algo natural e único, já tínhamos a plataforma Infraspeak implementada com sucesso há mais de um ano, estávamos radiantes com a robustez e aplicabilidade desta ferramenta, e ter a possibilidade de participar num evento de FM e ouvir oradores reconhecidos em Portugal na área de Facility Management era algo a não perder!

O que o motiva a ser parte ativa da comunidade IFM? Qual considera ser o maior benefício de ser membro da IFM?

O que tenho verificado ao longo dos anos é que as equipas de manutenção ou de FM estão habituadas a uma forma de estar diária de “hands on job”; este é um exemplo que vivo agora na Atrys Portugal, em que se verifica que a área clínica, nomeadamente o corpo médico, está constantemente em congressos, colóquios, talks, fazem promoção de artigos das especialidade, etc. Todo este benchmark, a partilha de técnicas inovadoras, a discussão de ensaios clínico, está enraizado de uma forma irreversível.

Na manutenção ou no FM as equipas estão habitualmente focadas no daily business: nos pedidos, nas avarias, nos fornecedores, o que se tem verificado ser claramente redutor, por isso a comunidade IFM é um ponto de partilha, para podermos apoiar-nos em peers com funções semelhantes, que podem ter dificuldades iguais, que provavelmente pretendem a melhoria contínua, que buscam no dia a dia a excelência operacional… e isto não é conseguido sozinho!

Como se costuma dizer, ”queres ir mais rápido, vai sozinho; queres ir mais longe, vai em equipa”. Esta comunidade pode perfeitamente passar a ser uma extensão das nossas equipas e das nossas empresas, suportando-nos na evolução.

O estudo sobre salários e benefícios no setor de FM e manutenção é uma iniciativa relevante. O que o impulsionou a participar e contribuir para a elaboração deste relatório?

Umas das “perguntas para um milhão de euros”, profissionalmente, é “quanto vale a minha experiência profissional e as minhas competências?”, e embora existam já alguns estudos de remuneração mais abrangentes, esta iniciativa para um grupo profissional mais restrito é de louvar e será, certamente, um contributo de peso para a comunidade IFM.

Ao longo da tua carreira, enfrentou algum desafio particular relacionado com compensação e benchmark salarial? Se sim, como o superou?

Em algum momento poderá ter existido uma perceção de desequilíbrio entre o vencimento e o que entregamos à organização, e esse desequilíbrio muitas vezes traduz-se em abandono das organizações. Cada vez mais as empresas reconhecem que aplicar ferramentas de Recursos Humanos eficazes traz ganhos efetivos: a simples avaliação de desempenho, o departamento de felicidade cada vez mais adotado pelas organizações, a indicação transparente do vencimento proposto no anúncio de recrutamento, entre tantas outras.

O mercado do trabalho está a mudar rapidamente, há uns 5 anos falávamos em B2B ou B2C, agora as organizações percecionam que as pessoas são o ponto fulcral e já implementam as metodologias de P2P (People to People), quer na relação com os colaboradores, quer na relação com todos os stakeholders.

Na minha opinião, cada vez mais os desequilíbrios que (ainda) vemos no FM se vão esbater nos próximos anos.

Durante o último Facilities Show, em Londres, a contratação foi mencionada como um dos principais desafios atuais das operações. Como acredita que este relatório sobre salários e benefícios pode ajudar a abordar o problema?

Neste caso temos duas vertentes, na vertente de bechmark de salários é fundamental fomentar estas ações de partilha, e esta ação da IFM será certamente fundamental para nós. No que diz respeito aos desafios no recrutamento, que se verifica atualmente nas operações, acho que é algo bem mais estrutural, que passa pela valorização do técnico, por incentivos governamentais aos cursos técnicos, por cativar a entrada de cada vez mais as mulheres para estas áreas de FM e manutenção, por uma formação de base cada vez mais vocacionada para a I&D, IoT, Sustentabilidade e Eficiência Energética… Isto para desmistificar a ideia que existe que estás áreas são puramente técnicas, quando o nosso dia é muito mais que isso, na verdade.

O salário é um dos pontos fundamentais da motivação de um profissional, no entanto acredito que é igualmente motivador sentirmos que existe evolução e que, profissionalmente, estamos mais capazes do que ontem.

Na sua opinião, como acreditas que este estudo pode beneficiar outros profissionais do setor de FM e manutenção? Que impacto acreditas que terá na comunidade IFM?

Estou bastante curioso para perceber quais os resultados, acho que estamos todos na comunidade. Será, sem dúvida, uma forma de obter a nossa valorização profissional, tendo uma base muito mais próxima da nossa realidade, que tem a sua especificidade.

Agradecemos aos nossos super membros IFM por partilharem as suas valiosas perspetivas e experiências sobre o estudo de compensação e benchmark salarial no setor do FM e manutenção. Juntos, fortalecemos a indústria rumo a um futuro mais sólido para os profissionais de facilities e manutenção.