“Quando o wireless for perfeitamente aplicado, todo o planeta será convertido num enorme cérebro”, a frase data de 1926 e foi proferida por Nikola Tesla. 

 

Pensar que IoT (“Internet das Coisas”) é algo relativamente recente, ou um fancy soundbite, é um  erro que já conta com largas décadas. Em 1999, a expressão ganhou vida, com os primeiros passos no laboratório do MIT com tecnologia RFID e, definitivamente, com uma apresentação de Kevin Ashton sobre o tema.  

 

Ainda assim, se tiver de apontar uma data, escolheria o ano de 2008, pelo simples facto de ter sido o momento onde passaram a existir mais dispositivos do que pessoas conectadas à Internet. IoT veio alterar o paradigma de conexão máquina a máquina para uma conexão avançada de dispositivos, sistemas e serviços.  

 

Existem inúmeros artigos, de vários espectros, ordem e detalhe, que nos permitem aprofundar  os conceitos técnicos, sobre a transferência de dados por vários sistemas em rede sem fios, mas foquemo-nos no essencial, a montante – como contruir a nossa estratégia e definir o nosso “why?”.  

 

Num tema tão vasto, volátil e em constante desenvolvimento, frequentemente, quem pretende implementar um sistema IoT na sua organização, pode sentir-se confuso, sem saber bem por onde começar.  

 

Este artigo pretende, de uma forma holística, simplificar e dar corpo a esse processo, com uma abordagem estruturada para auxiliar a sua implementação. 

 

#FromWhyToHow: Do porquê ao como.

Frequentemente, quando se avança para um sistema tão diversificado e com enorme oferta de soluções no mercado, é preterido o real propósito para a sua implementação, com uma estratégia bem definida em torno do mesmo, em detrimento de uma solução completa e com uma panóplia de features

 

“Por que razão necessito de implementar este sistema?”, esta deverá ser a primeira pergunta que norteia a análise a realizar e que condicionará, positivamente, todas as decisões futuras,  garantindo o alinhamento da nossa estratégia com a nossa necessidade real.  

 

Implementar um sistema full scope, com todos os dispositivos existentes e uma solução standard, não significa que seja, necessariamente, a melhor opção. 

 

Para garantir que estamos a posicionar-nos da forma certa, há que tomar em consideração vários fatores, como:  

 

  • Tempo de implementação “quanto tempo irei demorar a implementar este projeto?”;
  • Retorno da informação extraída “que mudanças conseguirei vir a operar nas minhas  operações com a informação recolhida?”; 
  • Criticidade dos outputs gerados “quais os outputs que têm maior impacto na minha  gestão?”; 
  • Recursos para a implementação “quanto esforço irei necessitar de alocar durante este  processo?” 
  • Custos de implementação “qual será o custo total desta implementação?” 

 

Naturalmente, a realidade e especificidade de cada organização devem ser tomadas como principais considerações, no sentido de cada sistema ser apropriado à sua realidade e garantir o retorno esperado.  

 

#Tailormade: Feito à medida. 

Com uma rigorosa análise da organização, a forma como abordamos a implementação de um sistema IoT é positivamente condicionada e assegura o equilíbrio entre os vários fatores previamente enunciados.  

 

Fatores como custo de implementação ou criticidade dos outputs gerados são exemplos demonstrativos de como dois sistemas IoT podem ser totalmente distintos. Vejamos dois cenários de implementação no equipamento de uma linha de produção automatizada.  

 

Primeiro, um sistema IoT standard, com toda a sensorização existente. Em segundo, um mais  simples e apenas com sensorização focada, ao nível da vibração e identificação de paragem de determinado equipamento. Temos, assim, duas soluções distintas em complexidade, custos e volume de dados gerados.  

 

No entanto, a segunda solução, apesar de gerar um menor volume de dados, assegura a sua função, que realmente acrescenta valor, garantindo a operação e manutenção preventiva da linha de produção.  

 

A partir de um determinado retorno inicial, para acrescentar um pouco mais de valor é necessário um investimento considerável – este é um ponto a ter especial atenção. 

 

O primeiro sistema, com um custo e volume de dados maior, pode não gerar um proporcional valor acrescentado de imediato. Adicionalmente, leva-nos para outro ponto relevante – a  capacidade de transformar informação em boas decisões. 

 

#BigdataVsSmartInsights: A Big Data e os insights inteligentes.

A importância de definir estrategicamente o nosso “Why?”, é reforçada quando nos deparamos  com um volume grande de dados “big data”, produzido por um sistema IoT.  

 

Dado a oferta de mercado ser vasta, sem a definição clara da informação relevante para nós, teremos também dificuldades em processar, extrair valor e tomar melhores decisões, com todos os dados que temos ao nosso dispor.  

 

É frequente, em várias organizações, serem gerados grandes volumes de dados, que não geram necessariamente informação útil que consiga suportar, objetivamente, a tomada de decisão.  

 

A distinção entre dados, informação, experiência e decisão, é realizada pela segmentação e análise de todos os dados. É decisivo que tenhamos a certeza do que pretendemos medir e do que não é tão relevante ou crítico, para gerirmos os recursos de operacionalização do sistema, também, ao nível do tratamento dos dados.  

 

No meio de muita informação, eventualmente desnecessária, pode gerar-se “information blindness”, ou seja, no meio de toda a informação sem interesse, poder até estar a que realmente queremos, mas está escondida entre toda a restante. “Make no mistake”, o principal objetivo  deverá passar por ter a melhor informação, de fácil acesso e potenciar a tomada de melhores decisões

 

#LifeCycle: Ciclo de vida. 

Este é um ponto que frequentemente é esquecido, independentemente dos modelos, e que atualmente requer maior responsabilidade no tratamento, com a melhor abordagem, fundamentalmente por questões de segurança.  

 

O ciclo de vida dos componentes divide-se em implementação, gestão e desmantelamento.  

 

Na implementação inserem-se as provas de conceito e programas piloto, que nos permitem testar e afinar o dimensionamento das variáveis para uma implementação com sucesso, seja integralmente ou por fases. A segregação e segurança das informações da organização  recolhidas pelo sistema devem ser salvaguardadas e validadas logo na fase inicial. 

 

Na gestão inserem-se a manutenção do sistema, updates ao mesmo e também a optimização contínua, que garante a sua plena funcionalidade. Este tema, por vezes, pode requerer esforço adicional (não previsto na fase de dimensionamento).  

 

Na fase de desmantelamento, a segurança não é menor à da implementação, pelo contrário. Deve ser assegurado que todos os componentes são removidos em segurança, que os utilizadores têm os seus perfis de acesso devidamente ajustados, no sentido de, em nenhum momento, a informação da organização ser comprometida. 

 

Relativamente à segurança dos sistemas, é importante que, desde logo, se envolvam os vários stakeholders que façam sentido, com destaque para o departamento de IT, evitando imprevistos em fases posteriores, que numa fase de implementação ou durante a operação. 

 

#WorkSmarterNotHarder: Trabalhar de forma inteligente.

Produtividade. Os outputs gerados por um sistema de IoT têm de acrescentar valor à nossa operação e, consequentemente, à nossa organização, independentemente do sector onde está inserida, no sentido de maximizar a produtividade. 

 

Existem outputs de vária ordem; desde logo, o conforto dos utilizadores, a automação de tarefas manuais e/ou administrativas, redução do risco de falha, redução de custos de operação, transparência de informação e mitigação de risco de forma geral, entre outros.  

 

Todos os fatores que possamos medir, gerir e melhorar, são passíveis de ser sistematizados numa solução IoT, que nos permita num meio de operação vasto, ter a capacidade de antecipar  problemas e implementar melhores soluções, no nosso dia-a-dia na nossa organização. 

 

#StartSmall: Começar aos poucos. 

Resumidamente, devemos ter o cuidado de planear estrategicamente, de forma a garantir a  concepção de um sistema robusto, que funcione para a nossa operação/organização e nos traga o retorno esperado.  

 

Uma abordagem diferenciadora, baseada num Agile Mindset, ou seja, uma solução modular que possa crescer (previamente definida, ou não) e evitar ambicionar uma solução perfeita logo à partida, que é difícil de atingir, tendo em conta uma grande variedade de factores, é  recomendável. 

 

Planear, testar e começar com uma implementação faseada, por ordem de prioridades, deve ser um caminho visto de forma positiva, para minimizar os erros, a dificuldade de implementação e o retorno, praticamente imediato, do investimento.  

 

Esse será um fator-chave na capacidade de garantir que os vários stakeholders reconhecem o valor acrescentado e contribuir para a digitalização das organizações. 

 

Com certeza que, mais que nunca e no contexto actual, IoT nos irá ajudar, nas mais variadas  dimensões, organizacional, profissional e pessoal, a tomar melhores decisões e a aumentar a produtividade.

 

Seguramente, estamos cada vez mais perto da visão de Tesla, 94 anos atrás.

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