Jane Pendlebury é a CEO da HOSPA, a Associação de Profissionais de Hotelaria e Restauração do Reino Unido. Mesmo antes de se tornar CEO em 2016, já era uma referência dentro do sector: trabalha em hotelaria desde 1985, tanto em cadeias de hotéis como em hotéis independentes. Pelo caminho, reuniu um currículo impressionante com as mais diversas experiências, desde gestão de propriedades a gestão financeira. 

 

Há pouco tempo, tivemos a oportunidade de conversar com a Jane sobre os desafios que a indústria do turismo enfrenta neste momento. O sector está a passar por uma fase difícil a nível global devido à pandemia e aos entraves para viajar, mas as empresas do Reino Unido têm de conciliar estes desafios com um terceiro factor – o Brexit. Será que 2022 é o ano que vamos recuperar? Quais são as suas expectativas para o futuro?

Jane, muito obrigada pela sua disponibilidade. Com o Brexit, a pandemia e a crise de matérias-primas a abater-se sobre o Reino Unido ao mesmo tempo, não é propriamente um segredo que o turismo está a passar por uma fase difícil. Num artigo que publicou no início de 2021, dizia mesmo que 2020 tinha sido um “annus horribilis”. Em 2022 vamos finalmente respirar de alívio?

 

Realmente, os desafios para a hotelaria já fizeram correr muita tinta este ano – e não vão desaparecer tão cedo. 

 

Recrutar staff é o maior desafio. Embora não sejam só a hotelaria e o turismo a sofrer, somos dos setores mais afetados. Já perdi a conta à quantidade de empresários de hotelaria e restauração a queixar-se de candidatos que não apareceram na entrevista. Isto é, se conseguirem que os candidatos cheguem a essa fase! Infelizmente, acho que não é sol de pouca dura. É provável que a situação ainda piore antes de voltar a melhorar. Embora, nesta altura, seja apenas um problema entre muitos.

 

Manutenção e FM em 2022 - O que pensam os especialistas?

A crise na cadeia de abastecimento, especialmente agora antes do Natal, só veio aumentar a pressão. Ao mesmo tempo, outras fontes de rendimento atrativas, como as viagens de trabalho internacionais, continuam a ser impactadas tanto pela pandemia como pela popularidade das videoconferências.

 

Há muitas tempestades à nossa volta e, a curto prazo, não acredito que 2022 traga a bonança.

 

“Vamos ultrapassar estes obstáculos com resiliência e agilidade.”

 

Está a prever um cenário bastante negro para a turismo. Acha que a hotelaria vai ser capaz de dar a volta? 

 

Se há coisa que a hotelaria sempre foi, é resiliente. É uma indústria que se adapta rapidamente e a agilidade que demonstrou nos últimos 18 meses é de cortar a respiração. Acredito que estes últimos desafios são obstáculos que conseguimos ultrapassar e que a indústria vai seguir em frente – mesmo que, às vezes, alguns obstáculos sejam penosos. 

 

Um dos problemas que destacou, e que gostávamos de explorar mais, é a questão de recrutar staff. Estima-se que, só no último ano, 92.000 cidadãos europeus deixaram de trabalhar na indústria hoteleira do Reino Unido. O número de trabalhadores provenientes da UE baixou 26% em dois anos. Se a falta de pessoal se deve a factores externos como o Brexit, o que é que as empresas podem fazer para ultrapassar o desafio?

 

O problema de recrutar staff, embora se deva a fatores externos como o Brexit, leva-nos a avaliar aquilo que defendemos e o que oferecemos a quem trabalha neste setor. Precisamos de analisar e refletir sobre o que nos torna uma opção atrativa. Depois há que promover esses atributos, ao mesmo tempo que eliminamos os fatores que levam as pessoas a desistir.

 

Pessoalmente, sei como a hotelaria é uma carreira incrível. Mas, como indústria, fazemos tão pouco para celebrar esse facto que, quando estamos a competir com outros sectores para contratar staff, somos encarados como uma opção temporária. Penso que a chave é concentrarmo-nos no que torna a hospitalidade tão formidável e vangloriar-nos desses aspetos.

 

Alguns fatores, como os problemas na cadeia de abastecimento, a falta de viagens de negócios, etc, estão fora do nosso controlo. Porém, tenho plena confiança de que a nossa famosa resiliência nos vai ajudar a ultrapassar essas dificuldades a longo prazo.

 

“Acredito mesmo que somos uma indústria atrativa, em constante evolução, que será sempre necessária.”

 

Apesar de todos os desafios, parece bastante confiante de que estes desafios são apenas obstáculos no caminho. Por isso, se tivesse de escolher uma palavra para descrever o futuro da indústria, qual seria? 

 

Excitante. 

 

Tal como falámos, a agilidade do nosso setor é fenomenal. Somos abençoados com uma abundância de mentes brilhantes e espírito empreendedor. Há sempre alguma coisa excitante a acontecer e estamos em permanente mudança. Tanto os operadores como os fornecedores estão sempre a tentar inovar e, portanto, apesar dos desafios, acredito mesmo que somos uma indústria atrativa, em constante evolução, e que será sempre necessária. Na minha opinião, o futuro é promissor, mesmo entre tantos desafios.

 

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