Não é como se antes da COVID-19 não quiséssemos saber da limpeza. Mas a verdade é que agora toda a gente pensa nisso! Nos últimos dois anos, os funcionários de limpeza tornaram-se trabalhadores essenciais e, enquanto muitas empresas enfrentaram uma crise sem paralelo, as empresas de limpeza tiveram uma procura como nunca antes visto. Mas como é que as novas tecnologias ajudam a responder a esta elevada procura?

A limpeza já não é um serviço “inferior” ou “invisível”

Paul Ashton é membro da direção da Associação de Serviços de Limpeza e Apoio (CSSA) do Reino Unido e CEO do Grupo de Limpeza Birkin. Como presidente da divisão de Tecnologia e Inovação da CSSA, o seu objetivo é ajudar as empresas de limpeza a crescer e “seguir em frente nos tempos que vivemos”. A tecnologia e a inovação têm uma “influência positiva na conformidade e na fiabilidade” e fornecem soluções nesta altura tão conturbada.

Paul Ashton defende abertamente a mudança e acredita que estamos numa altura em que a limpeza pode ser “finalmente reconhecida por tudo o que faz”. Apesar de ser essencial em todas as instalações, a limpeza é frequentemente subvalorizada. Antes da pandemia, e de certa forma ainda hoje, os trabalhadores de limpeza sentem-se como trabalhadores invisíveis, menosprezados pela sociedade e pelas organizações. O slogan “não somos a sujidade que limpamos“, usado pelos trabalhadores britânicos em protesto, é bem revelador.

“Temos um enorme papel a desempenhar na sociedade no que toca a pôr a economia a funcionar novamente”.

– Paul Ashton

“As escolas, por exemplo, estão abertas. Temos um papel diário a desempenhar que é fulcral. Ainda há centenas de edifícios que têm de ser limpos todos os dias”. Há “uma maior procura, exigência e expectativa” por parte dos clientes e a tecnologia ajuda-os a garantir este serviço. Mas, para o Paul, a pandemia não foi o ponto de viragem para a utilização de mais tecnologia nos serviços de limpeza.

A tecnologia proporciona mais sustentabilidade, resiliência e prosperidade

“Começou antes do Covid. Parece que foi há uma eternidade, mas já havia uma tendência em que os clientes se começavam a preocupar com o ambiente”, recorda. Tanto os clientes como os utilizadores finais incentivam-nos a perguntar “o que estamos a fazer como líderes empresariais, como indústria, para reduzir o impacto no ambiente? O que estamos a fazer para reduzir o consumo de água, melhorar as embalagens, e assim sucessivamente?”.

Na Birkin Cleaning, sentiram em primeira mão o impacto da tecnologia e das práticas inovadoras: “crescemos 150% nos últimos 4 anos de forma orgânica através da integração da tecnologia no negócio“, diz Paul. “Nem sempre foi fácil”, reconhece, “mas, dedicando o tempo necessário, acaba por compensar. É uma aventura, sim, mas uma aventura aliciante”.

Uma destas tecnologias é a cobótica. “Sem dúvida, para mim, uma das coisas que acho mais empolgante é a cobótica”. A cobótica não é novidade. Já se fala dela há vários anos, mas está a chegar a uma nova fase. Algumas pessoas perguntar se é robótica, e em boa parte é, mas a cobótica precisa de ser vista como ‘colegas'”.

A cobótica é um neologismo formado por “colaboração” e “robótica”. Um ‘cobot’ é um robô concebido e construído para colaborar com humanos. 

Com um cobot de limpeza, por exemplo, os empregados carregam num botão e o robot faz as tarefas mais repetitivas, como limpar o chão ou aspirar, enquanto os trabalhadores podem concentrar-se em tarefas manuais ou ‘tarefas de valor acrescentado’. Também já se propôs que estes robots podem libertar os trabalhadores de tarefas perigosas, como a limpeza de superfícies infetadas. Mas os trabalhadores podem ter dificuldades em aceitar estes argumentos, com receio de perder o trabalho.

Paul não ignora essas preocupações. “Todos os nossos 400 funcionários são extremamente importantes para nós, por isso não queremos desmotivá-los”. Por isso, a empresa decidiu torná-los parte do processo. Quando os tornamos verdadeiramente parte da equipa, e os incluímos, e os ajudamos a ver os benefícios, como é que este cobot pode funcionar, começam a aceitá-lo”.

“A cobótica é outro nome para um robô, mas na realidade é uma mentalidade”.

– Paul Ashton

A cobótica tem um papel principal, mas com as pessoas em mente

“Não se trata de substituir humanos, trata-se de apoiar o staff com equipamentos tecnológicos fiáveis que funcionam, que são consistentes a manter os espaços limpos e, não menos importante, permitem que o humano se concentre nos aspetos mais exigentes”. Mas se a cobótica já era uma vantagem antes da pandemia, provou ser uma mão de obra útil durante os confinamentos, quando muitos empregados tiveram de ficar em isolamento. A Birkin tornou-se assim mais resiliente.

“Sabemos que temos equipamentos tecnológicos fiáveis capazes de limpar amplos espaços dia após dia, não precisam de se autoisolarem, aparecem todos os dias, são incrivelmente fiáveis”.

– Paul Ashton

Jamie Hall, Diretor de Vendas e Marketing da Birkin, diz que foi uma mudança de paradigma. ” Antes da COVID, tratava-se apenas de dar esse recurso à equipa, para garantir que podiam prestar atenção aos detalhes, cobrir algumas ausências de curto prazo, etc”. Em contraste, “no pós-COVID, é um elemento-chave para ser mais eficiente e aumentar os elementos de sanitização e a limpeza dos pontos críticos em todo o edifício”.

Além disso, devido às circunstâncias, Paul acrescenta que os clientes estão à espera de uma “limpeza avançada”.  Querem saber ao minuto, ao segundo, quem está no local, há quanto tempo estão lá, o que está a ser utilizado”. Chamam-lhe “prova de limpeza” (ou proof of cleaning), e tornou-se “obrigatória”. Mais uma vez, a tecnologia veio para ajudar a demonstrar a conformidade e aumentar a confiança.

Recorrendo à cobótica ligada a software baseado na nuvem, os trabalhadores na linha da frente podem “comprovar tudo o que está a acontecer”. Aliás, Jamie acredita que esta tendência vai continuar: “agora que já experimentámos a utilização de dados e sensores para ‘prova de limpeza’ por causa da COVID, esta capacidade de proporcionar tranquilidade e conforto sobre onde e como a limpeza foi executada é extremamente importante”.

Contudo, a prova de limpeza não foi a única preocupação da Birkin durante o auge da pandemia. Como Jamie explica, o vírus impulsionou parcerias e clientes mais próximos. “Trabalhando com clientes, precisávamos de compreender onde estava o risco em termos de turnos, edifícios, etc.”. Tratava-se de garantir que ajudávamos a proteger as pessoas da COVID-19 e manter os padrões em todas as áreas”.

Também contactaram os fornecedores para “analisar produtos que fossem eficazes e pudessem ser utilizados pelas nossas equipas diárias”. Jamie sublinha que a sua empresa está empenhada em oferecer “o melhor custo/beneficio” – que ele define como sendo “comercialmente competitivo, mas não à custa de padrões de qualidade”.

Comercialmente viável – a cobótica vai tornar-se popular nos próximos anos

Quanto ao preço destas tecnologias, Paul considera que estão a evoluir rapidamente e que se vão tornar “comercialmente mais viáveis” nos próximos anos. Portanto, encoraja todas as empresas, sejam elas “pequenas ou grandes”, a explorar estas opções. “Fale com os fornecedores, tenha a mente aberta e prepare-se para a experimentar. Quanto mais cedo as pessoas começarem a explorar, mais preparadas se vão sentir”.

Jamie concorda. “A cobótica foi vista como um protótipo durante muito tempo e o inibidor era o custo – ou, na verdade, o investimento. Mas isso foi diminuindo e é extremamente empolgante. Há soluções para os novos desafios que se avizinham”. Sublinha também que a cobótica tem um custo-benefício positivo porque aumenta a produtividade sem afetar o serviço e melhora a sanitização.

“Não vai continuar a ser um prestador líder de limpeza se não procurar, encontrar e identificar constantemente as novidades que chegam ao mercado. Tenha um papel pioneiro em vez de ser um seguidor”.

– Jamie Hall

Como último conselho, Paul sugere que se afaste dos “sistemas fechados que não falam uns com os outros”. Encontrar sistemas que interagem uns com os outros, e fundamentalmente que consigam processar os dados de forma a ajudar como líderes empresariais”. Porque, afinal de contas, “quanto mais inteligência, melhores são as decisões que se tomam”.

As limpezas com cobótica são um grande exemplo de como a tecnologia pode ajudar as empresas a tornarem-se mais sustentáveis, mais produtivas e mais resilientes sem comprometer a qualidade dos serviços – ou a proximidade com os clientes.