O crescimento impressionante da economia global durante a segunda metade do século XX trouxe benefícios imensuráveis à humanidade que se traduziram no aumento da esperança média de vida de 45.7 anos em 1950 para 66.3 anos no ano 2000. No mesmo período, a população mundial mais que duplicou de 2.4 para 6.1 mil milhões.

 

Infelizmente, este crescimento não veio sem custos para o planeta, pois a emissão de gases com efeito de estufa devido à utilização de combustíveis fósseis aumentou mais de quatro vezes, de cerca de 1500 para 6500 milhões de toneladas de carbono por ano, excluindo outras fontes de emissão.

 

Entre outras causas, o desenvolvimento económico e a industrialização à escala global provocaram a subida da temperatura média da superfície da terra em 1ºC, face à linha de base (entre 1951 e 1980) que se mantinha no mesmo nível do período pré-industrial (entre 1850 e 1900). E sendo o dióxido de carbono o maior contribuidor para o aquecimento global, a descarbonização assume um papel essencial na sustentabilidade do planeta e da continuidade da espécie humana.

 

De entre muitas iniciativas, o Governo Português elaborou o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050) com o objetivo de reduzir as emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE) em mais de 85%, em relação a 2005, e de garantir uma capacidade de sequestro agrícola e florestal de carbono na ordem dos 13 milhões de toneladas.

 

Ainda segundo o RNC2050, os edifícios têm atualmente uma contribuição da ordem dos 10% para as emissões de Gases de Efeito de Estufa, mas também um potencial de redução de 85%!

 

E aqui entra o papel do Facility Manager.

 

O Facility Manager tem como principal objetivo garantir as condições de conforto adequadas à funcionalidade da instalação com o custo mais eficiente possível, incluindo os custos de energia. A energia, elétrica ou térmica (como é o caso do gás natural), é necessária para o funcionamento da iluminação, dos computadores e dos elevadores, entre outros, mas também da ventilação e do ar condicionado.

 

A eficiência energética

 

Infelizmente, a eficiência energética não é sexy. 

 

Talvez porque é baseada na análise e mudança de comportamentos, e não na simples aquisição de novos equipamentos. Atos simples como andar de escadas quando se sobe um piso ou desce dois, como apagar a luz das salas não utilizadas, ou como desligar o ar condicionado quando se abrem as janelas, impactam na redução dos consumos de energia de um edifício.

 

Mas também a gestão centralizada e inteligente dos equipamentos de AVAC – Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado – pode contribuir no mesmo sentido de redução. Pode utilizar-se o ar frio no Inverno para arrefecer os edifícios mais quentes, como se pode indexar a potência de aquecimento ou arrefecimento à ocupação real das instalações e minimizar o consumo de energia.

 

O Facility Manager tem um papel essencial na identificação e implementação das medidas de eficiência energética, pois além da recolha sistemática de dados tem de compreender o impacto no conforto dos utentes, e consequentemente na produtividade.

 

Considerando o case study de um edifício de 12,000 m2 na região de Lisboa, com um consumo anual de eletricidade de 815 MWh e emissões de 174 toneladas de carbono, o tipo de medidas de eficiência energética identificadas pode reduzir os custos de energia e emissões de carbono em cerca de 6%.

 

A geração renovável

 

Talvez a medida mais popular de descarbonização entre as empresas seja a instalação de uma central fotovoltaica para produção de energia renovável, devido ao enquadramento legal favorável ao autoconsumo de energia renovável e à disponibilidade anual média de radiação solar no território entre 1572 e 1987 kWh/m2. Para comparação, cidades como Munique ou Paris têm uma disponibilidade anual média de radiação na ordem dos 1100 kWh/m2, menos 38% do que Lisboa.

 

Em dezembro de 2020, a potência instalada das centrais de fonte fotovoltaica descentralizadas era de 494MW, um valor que se estima atingir cerca de 3GW durante a próxima década.

 

A opção pela tecnologia solar fotovoltaica tem como benefícios a geração de energia 100% renovável, com baixos custos de manutenção e com a produção em fase com os maiores consumos de energia num edifício típico de escritórios. Ou seja, os utentes do edifício consomem mais energia quando há sol.

 

Considerando novamente o case study já apresentado, uma central fotovoltaica com uma potência de 160kW geraria 240MWh de energia por ano, com redução de 29% das emissões de carbono.

 

A frota automóvel

 

Embora indiretamente relacionados com os edifícios, os transportes representam quase um quarto das emissões de Gases de Efeito de Estufa, mas com um potencial de redução de emissões até 2050 de 98%.

 

Apesar de impressionante, esta redução é facilmente conseguida através da utilização de veículos elétricos para a mobilidade ligeira e de hidrogénio obtido a partir de fontes renováveis para a mobilidade pesada.

 

Sabendo que, na Europa, 95% das viagens pendulares são inferiores a 80km, as configurações de veículos elétricos disponíveis são suficientes para endereçar a grande maioria das necessidades dos utentes.

 

Recorrendo novamente ao case study apresentado, a potencial conversão da frota automóvel dos trabalhadores da empresa (cerca de 240 viaturas) permitiria reduzir as emissões de carbono em 73%, utilizando a energia elétrica da rede nacional. Em alternativa, poderia conseguir-se a descarbonização total da frota através da geração e armazenamento descentralizado de eletricidade ou da compra de energia 100% renovável a um produtor privado.

 

Integrando todas as medidas referidas, a empresa do case study pode contribuir para a neutralidade carbónica através de uma redução de 85% das emissões de Gases de Efeito de Estufa hoje, em 2021!

 

E pode fazê-lo sem custos adicionais para a sua empresa, pois existem diversas empresas com modelos de negócio cujo investimento é suportado pelas poupanças geradas.

 

A Neutralidade Carbónica é para todos!

 

Para todos aqueles que se preocupam em preservar a sustentabilidade – económica, social e ambiental – do planeta.

 

Felizmente, a tecnologia também evolui para permitir atingir a neutralidade carbónica a custos razoáveis para manter a sustentabilidade económica e social.