A tecnologia de blockchain é uma das grandes promessas tecnológicas dos últimos anos. Apesar de ter surgido para um fim muito específico, estão a surgir diferentes aplicações em todo o tipo de mercados: da indústria ao retalho à hotelaria, passando pela gestão de manutenção. Embora muitas destas hipóteses ainda estejam em fase de estudo, não há dúvidas de que a blockchain será tão transformadora como a internet das coisas.
O que blockchain?
Blockchain é uma daquelas palavras que nos “soam” a qualquer coisa. Mas não a associamos precisamente a manutenção ou a gestão. A razão é bastante simples. Esta tecnologia surgiu a par das criptomoedas, para regular a sua utilização. No entanto, pode ter aplicações em muitos outros setores, nomeadamente na indústria 4.0.
Como de costume, vamos começar por assentar algumas bases. Primeiro, o que é blockchain? Essencialmente, é um algoritmo para partilhar informação de forma a que esteja criptografada e distribuída. Por outras palavras: uma espécie de registo distribuído em rede, organizado em blocos. Como cada módulo ligado à rede fica com uma cópia, é impossível eliminar a informação gravada. Por exemplo, um bloco seria “uma transferência de 1€ da pessoa A para a pessoa B” e esse registo é permanente.
Então, torna-se fácil entender porque é que a blockchain surgiu com as criptomoedas, como a Bitcoin. Sem esta tecnologia em rede seria muito fácil “inventar” uma quantidade falsa de dinheiro, pois não haveria maneira de confirmar cada uma das transações (a que corresponde um bloco). E como fazemos cada vez mais transações de dinheiro digital, os bancos também têm investido em blockchain para guardar e encriptar informação financeira.
No entanto, as potenciais aplicações da blockchain podem estender-se a outros setores, com aplicações quase ilimitadas.
Blockchain na Indústria
Entre as empresas que estão a investir em mecanismos de blockchain na produção, 89% dizem que o fazem na expetativa de obter poupanças. Mas um dos maiores objetivos das blockchains é guardar a informação em todos os módulos da rede. Isto significa que há rastreabilidade de todos os dados e, como consequência, mais transparência.
O que também abre essas possibilidade para a indústria: a seguir à poupança que já mencionamos, as empresas esperam usar as blockchains para melhorar a rastreabilidade (81%) e aumentar a transparência (79%). Se todas as transações ficam arquivadas e não podem ser apagadas retroativamente, todos os gastos e movimentos são controlados — por isso é que gigantes como a IBM e Maersk já estão a testar projetos em que as mercadorias são trackeadas da Ásia até à Europa com blockchain.
Finalmente, a rastreabilidade facilita a recolha dos produtos quando há falhas no processo produtivo. Não é raro ouvirmos dizer que um determinado lote tem de ser retirado das prateleiras por uma questão de segurança. Estas recolhas são extremamente difíceis e custosas para os produtores – mas tudo se tornaria mais fácil com blockchain.
Blockchain no Retalho
Outra das grandes promessas da blockchain é mudar completamente o setor do retalho. Isto porque, no futuro, será possível atestar a autenticidade dos produtos que compramos. Como cada informação fica num bloco, conseguimos saber onde é que a peça foi produzida, por quem e como chegou até à loja. Ou seja, haverá uma barreira enorme aos produtos contrafeitos.
Hoje, muitas marcas de luxo dão números de série e outras marcas de autenticidade às suas peças, mas quase todos são replicáveis. Um certificado baseado na tecnologia blockchain seria uma solução para este problema e reforçaria a confiança dos consumidores nas marcas e produtos. Até os produtos alimentares podem vir a ser ‘trackeados’ desde o momento em que são colhidos até chegarem ao seu prato, o que aumentaria a segurança alimentar e a qualidade do processo produtivo.
Blockchain em Hotéis
Achava que um setor tão competitivo como a hotelaria ia deixar escapar a oportunidade? Claro que não. Aliás, a Lufthansa e a Nordic Choice já estão a fazer experiências com blockchain. É fácil de perceber porquê. Na era da internet das coisas, tudo é feito online. Pegamos no nosso telemóvel, abrimos uma aplicação e reservamos um hotel em 2 minutos. Isto significa que estas indústrias estão dependentes dos “distribuidores” — aos quais têm de dar preços mais baixos ou entregar uma comissão, o que se conhece como modelo OTA (Online Travel Agents).
Para os hotéis, um modelo sem estes agentes de distribuição seria muito mais sustentável e lucrativo. Mas para isso, têm de conseguir criar um registo público do inventário hoteleiro que registe todas as transações – como se fazer uma reserva fosse comprar Bitcoins. A chegada de blockchain à hotelaria vai permitir isto e aumentar o leque de possibilidades tanto para os hotéis, como para os hóspedes.
Blockchain na Assistência Técnica
A internet das coisas também pode ser usada para melhorar a assistência técnica. No Brasil, por exemplo, foi desenvolvida uma aplicação para assistir o agronegócio. O programa ajuda pequenos e médios agricultores a poupar água e promove o uso racional dos recursos naturais. Já os agricultores vão poder usar sensores, que podem ler usando tecnologia NFC. Os sensores permitirão avaliar a necessidade de água e controlar a irrigação. Embora ainda não use blockchain, pode vir a incorporá-la no futuro.
Mas também há a possibilidade de usar blockchain para melhorar a segurança pública ou prestar assistência remota. Duas das maiores vantagens da blockchain neste campo são a encriptação da informação e o facto de estar descentralizada, o que salvaguarda a privacidade e protege dados sensíveis. Para os gestores de manutenção mais cautelosos, nada acabará na cloud! Aliás, podemos vir a substituir assistentes virtuais, como a Siri ou a Alexa, com assistência descentralizada e encriptada em blocos.
Blockchain na Gestão de Infraestruturas
Até agora, a manutenção tem-se dividido tradicionalmente em dois tipos: manutenção preventiva e manutenção corretiva. O objetivo da primeira é evitar as avarias, enquanto a segunda é corrigi-las apenas quando acontecem. Ambas têm desvantagens. No primeiro caso, arriscamos a substituir peças antes do fim da vida. No segundo, arriscamos a deixar os clientes sem serviço ou a parar a produção. Eis então que surge uma terceira via: a manutenção preditiva, que tenta prever quando é que a falha vai ocorrer.
Isso exige, claro, ter informação organizada sobre todas as máquinas que queremos manter, assim como dados sobre o seu uso. É aqui que entra a internet das coisas e a própria tecnologia de blockchain. Unir a informação que podem recolher e armazenar para aumentar a precisão das estratégias de manutenção é o próximo grande passo na gestão de infraestruturas.
Só agora estamos a começar a explorar a tecnologia de blockchain com profundidade. Mesmo assim, 50% das empresas poderiam já estar a beneficiar das suas vantagens nos próximos 3 anos. Não sabemos qual é a sua opinião, mas nós estamos ansiosos para chegar a esta nova era da gestão de manutenção.