Olá Duarte, és Chief of Staff na Infraspeak por isso a nossa primeira pergunta é uma que já ouviste várias vezes: o que é que faz um Chief of Staff?
Quando as empresas crescem, o único papel transversal a todos os departamentos é o de CEO. Claro que há pessoas com ownership em áreas muito grandes como o Luís (Luís Martins, CTO) em Engenharia, ou o Rui (Rui Santos Couto, VP of Growth) nas áreas de Growth mas nenhuma delas é completamente transversal, só o CEO. Quando uma empresa cresce para 50 ou 60 pessoas, como no nosso caso, o CEO deixa de conseguir assumir tudo e é aí que entra a posição de Chief of Staff, para dar mais “poder de fogo” a esse papel e oferecer uma espécie de extensão.
Claro que há sempre decisões que têm que ser tomadas exclusivamente pelo CEO mas desde que exista um alinhamento absoluto, eu sinto-me confortável tomar decisões com a certeza que estou a fazer ou a responder da forma certa. Eu diria até que um dos principais objectivos de qualquer papel transversal a vários departamentos, seja produto, growth ou sales – é precisamente o de garantir esse alinhamento entre equipas e departamentos, resolver disputas e intermediar, mesmo que seja informalmente, algumas conversas.
Outra parte importante é ter visibilidade sobre a empresa toda.
Isto dá-me a liberdade, tanto para agarrar projectos importantes, seja para a empresa ou para um departamento específico, como para ser um “tapa-buracos” – alguém que resolve o problema quando o problema não tem necessariamente uma solução fácil ou rápida.
Independentemente da estrutura ou do tamanho da empresa, tem sempre que haver um CEO, nem que seja para representatividade. Isto faz com que o Chief of Staff garanta um bom funcionamento da operação no dia a dia enquanto que o CEO lida com investidores, fundraising ou alguns tipos específicos de parcerias. A partir do momento que alguma destas entidades externas passa para dentro da Infraspeak, então passa também para as minhas responsabilidades.
Entraste muito cedo na Infraspeak e até chegares à posição que ocupas hoje, fizeste um pouco de tudo: desde marketing a finance, passando até por sales. Quais foram as principais aprendizagens?
Entrei em finais de 2016 quando éramos só 5 ou 6.
Na altura, era toda a equipa do lado do produto e só o Felipe (Felipe Ávila da Costa, CEO) em todas as áreas de business. Estávamos com 20 clientes e a crescer e depois de garantir investimento, pensamos em aumentar um pouco a equipa.
Como business incluía sales, marketing e finanças e como tinha sido sugerido que eu me tornasse uma extensão do Felipe na empresa, acabei por me dedicar a essas, sabendo sempre que eventualmente, teria que escolher uma. Um dia, ao voltar de Lisboa… o Felipe perguntou-me qual das três áreas é que eu escolheria deixar, qual a que eu menos gostava. Respondi Marketing, e essa foi a nossa próxima contratação. Um ano depois, a mesma história, mas esta vez disse Sales Development e Performance, o que levou à contratação do José Forte que é hoje o nosso Performance Marketing Manager.
A principal aprendizagem foi um conhecimento intrínseco da empresa. Antes as coisas passavam por mim porque estava envolvido nelas. Hoje passam porque sou eu que faço esse alinhamento e posso dizer que é difícil ser surpreendido pela Infraspeak porque sinto que sei tudo o que pode acontecer. Conheço-a mesmo bem! Mesmo estando já desligado de alguns departamentos, ainda me pedem coisas de que eu ou ainda me lembro ou ainda tenho escondidas algures no email.
Vim para a Infraspeak para a conhecer a empresa e o seu crescimento de A a Z e mesmo sem me sentir um mestre de nenhuma área, sou capaz de discutir todas. Isso foi um dos principais objectivos alcançado.
És muito competitivo e jogaste Andebol a nível nacional (Campeão Segunda Divisão). Sabemos também que gostas de correr, com histórias de meias maratonas pelo meio. Conta-nos um pouco sobre isso e como isso se reflecte no teu dia a dia na Infraspeak.
Essa história dos 20 quilómetros…a razão por detrás disso, está muito relacionada comigo. E só o fiz uma vez! O que aconteceu foi que no dia anterior estava com um amigo meu e andávamos em pré-época no andebol. Aquilo era intenso e costumávamos correr 10 quilómetros mas nunca tínhamos pensado em fazer mais do que isso, nem tínhamos tentado. Em conversa, discutimos se conseguiríamos fazer uma maratona ou meia maratona e concordamos que sim, mas a conversa acabou ali… eu é fiquei com aquela pergunta na cabeça
No dia seguinte, acordei, ainda com essa pergunta, e resolvi respondê-la. Corri e pronto! Saí de casa e comecei a correr. Quando estava a bater na marca dos 11 quilómetros, decidi voltar. Quando cheguei liguei ao meu amigo e disse-lhe: “se quisermos, conseguimos”. Agora já sei!
O paralelo com a lógica da Infraspeak passa muito por aí. Pelo “porque é que não posso?” Acho que muitas vezes as pessoas passam tempo demais a planear ou pensar por medo de errar e aqui nós motivamos as pessoas a querer, tentar, fazer e testar. Eu estou sempre a bater numa analogia muito engraçada do skate da bicicleta e do carro. As pessoas pensam sempre em fazer um carro mas quando começam, fazem-no sem rodas. Podes passar um mês a desenhar, três meses a planear e depois cai tudo por uma suposição errada.
Mesmo que as pessoas reclamem, é melhor começar com o skate ou a bicicleta e receber feedback e ganhar aprendizagens para depois mudar e chegar onde se quer
O teu “espírito empreendedor” começou também muito novo. De onde veio? Tiveste sempre uma tendência a criar os teus próprios projectos ou a participar em startups?
Acho que empreendedorismo não tem muito a ver com startups mas mais com uma forma de ser. Podes ser empreendedor em corporate. Podes ter um emprego perfeitamente normal e ser um empreendedor na tua vida. Para mim, está mais relacionado com ir e fazer. Se tiveres um problema em casa, até podes não saber resolver, mas ele não vai ficar assim.
Essa atitude esteve desde muito cedo presente em mim. A minha mãe fez muitas coisas, deste contabilidade a negócios como papelarias ou lavandarias, e isto já nos seus 40. No entanto, o empreendedorismo dela não veio por ter tido os seus negócios mas pelo facto de que queria fazer coisas, mesmo quando a ambição ou a motivação iam mudando com a idade.
Pessoalmente, envolvi-me em alguns projectos desde muito cedo, mesmo antes até da faculdade e alguns com o José Forte (actual Performance Marketing Manager da Infraspeak). Um deles foi a nossa equipa de Andebol de Praia, os Kamikaze, que foram criados quando tínhamos 12 ou 13 anos. Para pagar inscrições e equipamentos, começamos a fazer a nossa versão de outbound, que era percorrer Leça da Palmeira toda a pé e falar com negócios para tentar obter patrocínio. Por telefone também! Lembro-me que conseguimos juntar algum dinheiro (em cash!), inclusive de uma loja chinesa que não tinha logótipo e a quem nós acabamos por desenhar um.
Acabamos por conseguir pagar inscrições, torneios e até uma viagem para o Algarve. O projecto acabou por decorrer durante mais 4 anos. Em Maio ou Junho, voltava a acontecer o fundraising por Leça da Palmeira…
De certa forma, a Infraspeak também nasceu assim. Muitas das pessoas actualmente na equipa eram ou tinham amigos na Infraspeak e aqui vive-se muito isso. As pessoas rodeiam-se dos seus amigos, não porque querem trabalhar juntos mas porque confiam uns nos outros para fazer um bom trabalho e porque se consegue ter um ramp up incrível com elas.
Quanto ao trabalho remoto, como é que achas que a Infraspeak se adaptou operacionalmente a ter quase toda a equipa a trabalhar online? Que tipo de evolução é que o mundo (e o mundo empresarial) vão sofrer com isto?
O mundo percebeu que isto era possível. Nós tínhamos bloqueios enormes em digital. Ou era o cara a cara que só se conseguia ter mesmo cara a cara, sem ecrãs pelo meio, ou eram os clientes que só falavam connosco se nos reuníssemos presencialmente.
De repente, aparece uma pandemia que diz “se queres continuar a trabalhar, se queres continuar a fazer dinheiro, tens que te adaptar” e a minha ideia é que o mundo se adaptou. Sim, o presencial vai voltar mas o estigma do online ou do remoto vai deixar de existir.
Uma coisa muito engraçada que vi é que o mundo fez em 3 meses, a adaptação digital que corporate anda a falar há 20 anos. Vemos coisas que era completamente impensável serem feitas online, mesmo a nível governamental ou civil. Não havia a estrutura para acomodar isso. Hoje sim e se há 3 meses uma reunião por Skype não contava como reunião, agora já conta…
Para a Infraspeak, embora déssemos alguma preferência ao remoto, ainda havia alguns tabus com isso. Se não visses alguém no escritório uma semana, assumias que estava de férias. Agora, mais uma vez, aprendemos que não se pode controlar pessoas dessa forma e que tem que ser feito pelo trabalho e pelos resultados. Acho que mais empresas vão começar a adoptar isto.
Há também coisas más como deixar de se poder ter horas para “sair do escritório” mas ao mesmo tempo, ganhas flexibilidade e perdes aquela exaustão de passar uma tarde a ter reuniões seguidas numa sala sem janelas.
No geral, acho que ninguém sabe como o remoto vai influenciar o mundo mas já se ganhou essa consciência e já sabemos que não é um bicho ou algo reservado apenas para os “Facebooks” e “Twitters” dessa vida. É para todos.
Duarte Silva é Chief of Staff e o convidado desta semana do Inside Infraspeak. Obrigado, Duarte!