A internet das coisas mudou a forma como vivemos, mas que impacto teve nos processos de manutenção?A transformação digital e o admirável mundo novo da indústria 4.0 são uma oportunidade de redefinir objetivos e estratégias.

O que é a transformação digital?

Desde usar o cartão multibanco contactless para pagar a viagem de metro até aos auscultadores sem fios, a tecnologia mudou completamente os nossos hábitos e rotinas. Disso, já ninguém duvida. A “Internet das Coisas” (conhecida como IoT, do inglês Internet of Things) entrou na nossa vida através do serviço de dados, do Bluetooth e da tecnologia NFC.

Não surpreendentemente, estas tecnologias também chegaram à forma como fazemos negócios, como produzimos e como nos relacionamos uns com os outros. É por isso que conseguimos ter equipas a trabalhar remotamente e que no marketing se tornam populares conceitos como inside sales. A nível de manutenção, a internet das coisas permite-nos ter uma visão global e constante sobre tudo o que se passa no ativo ou infraestrutura.

Nas grandes infraestruturas, com muitos equipamentos para gerir, tornava-se impossível armazenar toda a informação em papel ou agendar as ações de manutenção nas agendas tradicionais. Por isso mesmo, as empresas acabavam por fazer mais manutenção reativa – isto é, manutenção corretiva, apenas depois de notarem uma falha ou de ocorrer uma avaria total. Felizmente, a tecnologia dá-nos a oportunidade de reverter este cenário.

Nunca foi tão fácil monitorizar ativos, agendar manutenção preventiva e acumular informação que permita desenvolver uma estratégia de manutenção preditiva. Se antes a manutenção corretiva era dominante, hoje não supera os 10-20% num plano de gestão de manutenção saudável. Para isso, contribuem coisas como um CMMS (Software de Gestão de Manutenção), as etiquetas NFC e a adesão a documentos digitais.

A transformação digital chega à manutenção

Como já mencionamos acima, os gestores de manutenção de grandes infraestruturas tinham um problema ainda maior do que a manutenção em si: a quantidade de informação que tinham para analisar manualmente. É por isso que o aparecimento de softwares de gestão de manutenção veio revolucionar este setor. Qualquer hotel ou empresa de pequena ou média dimensão tem ao seu alcance vários CMMS. Estes softwares, além de facilitarem o agendamento das tarefas, também processam informação e fazem relatórios automáticos. Mas isso é o que já temos agora, portanto hoje queremos explorar as possibilidades do futuro.

A transformação digital em hotéis

A transformação digital tem afetado profundamente a indústria hoteleira. A maioria dos viajantes marca as suas férias online, o que permite conhecer melhor o público-alvo e segmentá-lo. Sabemos do que gostam e o que valorizam durante a estadia. Isto permite-nos melhorar o funcionamento do hotel no dia a dia e evitar que esses pontos cruciais para a satisfação do cliente falhem.

Além disso, a transformação digital leva-nos a uma nova era de smart hotels com check-in automático e em que os hóspedes interagem com o staff através de apps. No limite, isto significa que podem ser os próprios hóspedes a gerar tarefas de manutenção corretiva – por exemplo, a pedir uma substituição de uma lâmpada, a limpeza do quarto ou a reparação das persianas. Isto, claro porque são tarefas em que a manutenção corretiva tem menos gastos para a empresa do que a manutenção preventiva.

A transformação digital em indústria

Com a automatização das linhas de montagem e produção, a indústria depende de uma manutenção eficiente para continuar a funcionar. E como nestes casos é preciso controlar detalhadamente a informação sobre cada máquina, os sensores e as etiquetas NFC são a tecnologia mais indicada. Os primeiros registam informação e as segundas servem para a armazenar. Os técnicos de manutenção podem assim obter informação em tempo real sobre tudo o que se passa dentro da fábrica.

Na indústria 4.0, os sistemas podem até autoregular-se consoante a informação recolhida. Igualmente importante é o avanço das técnicas de manutenção preditiva, pois hoje já existe tecnologia de análise de temperatura, vibração e acústica, através de sensores instalados nas máquinas. O objetivo é uma deteção cada vez mais precoce de potenciais falhas e avarias. Estas técnicas vão continuar a aperfeiçoar-se à medida que vamos conseguindo extrair mais informação da big data.

A transformação digital no retalho

No retalho, a maior promessa vem de uma tecnologia que se chama blockchain. Tradicionalmente usada nas transações das criptomoedas, a blockchain guarda informação encriptada de forma descentralizada – por outras palavras, cada módulo nesta cadeia tem uma cópia desta informação e é impossível alterá-la. Mas como é que isto pode influenciar a manutenção no retalho? De várias formas, mas iremos destacar duas.

A primeira é através de certificados de autenticidade. Os produtores podem guardar informações em blockchain de forma a que os consumidores possam assegurar-se de que uma determinada peça é autêntica e respeita todas as normas de qualidade. No limite, conseguem vencer a contrafação de produtos. A segunda forma é facilitar a recolha de produtos que, por algum motivo, chegaram ao mercado defeituosos ou impróprios para consumo. Se todas as transações forem rastreáveis através de blockchain, retirar esses produtos é mais rápido, mais eficiente e mais económico: um win-win para produtores e consumidores.

A transformação digital na assistência técnica

A assistência remota já não é novidade para ninguém. São muitas as empresas que prestam assistência técnica remota — aliás, é exatamente o que fazemos na Infraspeak. Como a informação inserida no CMMS fica armazenada em cloud, é possível o assistente técnico aceder a todos os dados relevantes para a resolução do problema (relatórios de erro, data e hora da ocorrência).

Quanto mais inteligente for a infraestrutura – ou seja, quanto mais forte for a IoT – mais fácil será implementar assistência técnica remota. No fundo, as salas de controlo serão remotas. A assistência técnica externa, que muitas vezes regalamos apenas para a manutenção corretiva, pode ser muito mais forte tanto na manutenção preditiva como na manutenção preventiva.

Os desafios da transformação digital

Agora que já exploramos as diferentes tecnologias que estarão à sua disposição no futuro, o principal desafio é perceber quais é que se adequam ao seu negócio. Pense que é como arrumar a sua casa: se estiver sempre a comprar mais caixas de arrumação na tentativa de organizar melhor o espaço, vai simplesmente acabar com mais tralha em casa. Ou seja, podemos ser um bocadinho Marie Kondo; se uma determinada tecnologia não lhe traz qualidade de vida, talvez não seja a solução que procura.

A tecnologia deve trabalhar para nós e não o contrário: se os seus funcionários passam mais tempo a configurar um software do que a usá-lo, não está a cumprir a sua função. Se está a armazenar muita informação mas tem poucos insights, precisa de redefinir a sua estratégia. Em vez de dispersar os nossos objetivos, devemos utilizar a tecnologia para sermos mais incisivos, mais certeiros e oferecer um serviço melhor aos nossos clientes.

Por outro lado, a tecnologia avança de forma tão rápida que acompanhar o progresso é um desafio em si mesmo. É por isso que deve investir na formação contínua dos funcionários e procurar um equilíbrio entre novos e velhos talentos. Uma “manutenção” também dos recursos humanos, diremos.